Deu urubu na redação

Charge para o Jornalistas & Cia

Na redação do Estadão, em meados da década de 1990, o ar condicionado não vencia o calor intenso que fazia e, por conta disso, era comum manter as janelas abertas, com vista panorâmica para o córrego da Av. Engenheiro Caetano Álvares.

Mantinha-se uma amigável convivência com os urubus que habitavam o local e que haviam feito das marquises seus pontos de descanso. Com eles dividia-se o espaço para fumar ou simplesmente espairecer um pouco. Apesar das janelas, que iam do chão ao teto, sempre abertas, nunca havia acontecido nada até que uma tarde de muito calor, um deles resolver bisbilhotar a redação. O penoso então flanou atordoadao e meio perdido entre os monitores dos computadores do JT, batendo nos móveis e nas intermináveis pilhas de papéis que povoavam as mesas, provocando correria e gritos, anormais mesmo para uma redação como eram as daquela época.

Todos da Economia do Estadão, assistiram de camarote à cena kafkiana. Jornalistas em fuga, urubu voando e vomitando (urubus fazem isso quando se sentem ameaçados), enfim, um pandemônio, até que o ser alado entrou num dos aquários  e um valente segurança foi atrás e se trancou com ele. Talvez naquela época urubu não fosse protegido pelo Ibama ou talvez não fosse crime ambiental inafiançável, o fato é que o guarda deu cacetada para todo lado, penas voaram e alguns minutos depois saiu carregando o urubu pelas patas e foi longamente aplaudido por todos. Ninguém nunca perguntou o fim que se deu ao bicho, mas houve novas palmas quando chegou o esquadrão da faxina, formado por várias mulheres que entraram no aquário munidas de esfregões, baldes e frascos e mais frascos de Bom Ar.

Matéria certa, foto errada

Antes de mais nada, tem tirinha nova no TopBlog. Não deixem de conferir!

Esta semana saiu uma matéria sobre quadrinhos no Jornal da Comunidade em Brasília para a qual eu fui entrevistado.

A matéria ficou bem bacana, mas acabaram se confundindo lá na diagramação e colocaram a foto de um professor com nome parecido ao meu no lugar.

A matéria pode ser conferida logo abaixo (clique para ampliar):

Os carrapatos de Saul

Charge dessa semana para o Jornalistas& Cia

Saul Galvão, há pouco promovido a enólogo de São Pedro, era hipocondríaco de carteirinha, e gostava de descrever as agruras que passara com cargas de micuim que pegara em criança, nos pastos da fazenda, em Jaú, tão graves que davam febre, alergia e uma coceira infernal.

Ao saber de uma pauta sobre carrapatos, na Entomologia do Butantã, Saul contou a história novamente, explicou em detalhes como era o micuim, larva de carrapato-estrela tão pequena que se torna quase invisível e que fica nos pés de carrapicho e se espalha nas pernas do incauto, quando alguém roça na planta.

A matéria no Butantã foi boa, mas estavem sem retratista levaram à redação, para fotografar, o maior carrapato que existe, uma bola do tamanho de uma ameixa, parasita do bicho-preguiça.

Feita a matéria, um engraçadinho qualquer colocou o vidro aberto, sem tampa, com a etiqueta do Butantã, na mesa do Saul. Ele revirou o sovaco do paletó que estava na cadeira e começou a espalhar pela redação que eu trouxera também amostras de micuim.

O Estadão efetivamente parou para rir do Saul, ajoelhado ao lado de sua mesa, velho isqueiro Zippo na mão, criteriosamente fumegando seu paletó, na esperança de queimar os carrapatos – inexistentes, por sinal.

Paulicéia alagada

Após o mês de janeiro mais chuvoso da história, eu resolvi começar uma nova série de tiras sobre o cotidiano na cidade de São Paulo que publicarei esporadicamente no TopBlog.

Então, sem mais delongas, orgulhosamente, lhes apresento Os Paulistanos Desvairados (clique para ampliar):

Piadas infames

A primeira piada infame deste post é a tirinha nova no TopBlog! Não deixem de conferir!

A outra piada é a charge desta semana para o Jornalistas&Cia.

Durante anos, jornalistas que cobriam determinados setores quando viajavam em férias conseguiam junto às fábricas de carros o empréstimo de veículos, geralmente lançados havia pouco tempo, até para que na devolução, na maioria das vezes menos de 30 dias, pudessem dar seu parecer sobre o desempenho do veículo, suas facilidades e dificuldades.

O editor-chefe do Estadão era Miguel Jorge, hoje nosso ministro do Desenvolvimento. A secretária dele, Elvira era quem providenciava o encaminhamento dos pedidos para a solicitação dos carros.

Um jovem e robusto repórter, que tivera problemas com seu carro prestes a viajar, pediu que Elvira encaminhasse o pedido à montadora. É claro que o pedido era avaliado pela diretoria de Redação. O jovem repórter era muito gozador, não deixava ninguém sem gozação e até um dos donos do jornal não escapava de suas tacadas. Quando a chefia de Redação soube que o pedido era para um carro de preferência grande, decidiu fazer uma brincadeira com o repórter. A solicitação acabou sendo feita para uma Kombi.

Geralmente demorava alguns dias a autorização da montadora para o empréstimo do veículo. O repórter sempre que voltava da rua, após ter cumprido a pauta, passava na sala da Elvira para saber se havia novidade quanto ao carro. E assim se passaram alguns dias. Ela sabia que a Kombi solicitada não estava disponível e demoraria alguns dias.

Uma semana depois houve a liberação. Um motorista da montadora levou a Kombi para o pátio do prédio do Estadão, no bairro do Limão, e a deixou estacionada nos fundos, perto da rampa que levava os caminhões até o local onde o jornal é recolhido para ser distribuído às bancas e aos assinantes.

Noite de sexta. Trabalho cumprido, texto pronto e entregue ao editor. O repórter iria viajar na 2ª.feira e foi avisado para passar na sala da Elvira pois a encomenda chegara. Ela entregou as chaves e disse que os documentos e a autorização para rodar com o veículo ele encontraria no porta-luvas.

– Que carro é? – perguntou o jornalista.

– Não sei – respondeu Elvira. O motorista só deixou as chaves e avisou onde estão os documentos.

Claro que ela sabia. Um pequeno grupo de jornalistas também. Todos amigos do repórter e que ficaram à espera da saída dele com destino aos elevadores. A redação do Estadão fica no 6º andar e assim que ele entrou no elevador todos desceram rapidamente pelas escadas.

O repórter procurou pelo carro. As indicações da Elvira eram para o estacionamento ao lado da rampa. Ali estava uma Kombi. Ele pediu no tráfego para telefonar e perguntou se não havia algum engano. Nada. A montadora mandara mesmo a Kombi.

Ele tentou entrar no carro. Alto, forte, sentou com dificuldade. Percebeu que não conseguiria dirigir. Nesse momento, olhou para o lado e viu o grupo de colegas que caíra na gargalhada.

– Ôrra meu! Quem foi o fdp autor dessa sacanagem?

Le Brésil n’est pas un pays sérieux

Hoje tem tirinha nova no TopBlog. Não deixem de conferir!

Abaixo segue a charge dessa semana para o Jornalistas & Cia.

No ano de 1964, o então presidente francês Charles de Gaulle fez uma das muitas inaugurações da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), em Cubatão, ao pé da Via Anchieta, na Serra do Mar. José Dias Herrera, o Zezinho, chegou atrasado e o presidente francês já havia acionado o botão que inaugurava a Laminação a Frio da empresa. Com a elegância que também lhe era peculiar, o  jovem fotógrafo de A Tribuna foi rápido e  passou pela segurança. “Levantei o braço – e muito, pois o homem tinha mais de dois metros de altura –, bati no ombro dele e disse ‘Monsieur, s’il vous plâit: hum, hum, hum!’, fazendo gestos para que ele apertasse novamente o botão. Ele riu, foi lá e atendeu ao meu pedido. Naquele dia a Cosipa  foi inaugurada duas vezes”. Há quem atribua ao ato do Zezinho a frase de de Gaulle: “Le Brésil n’est pas un pays sérieux”, que o francês até a morte negou ter pronunciado. Desde o último dia 17, Zezinho deve estar ao lado de de Gaulle e ambos rindo da história na Cosipa.

É o amor!

Hoje tem tirinha nova no TopBlog. Não deixem de conferir!

Saiu a lista das melhores HQs de 2009 do UniversoHQ e a EntreQuadros (cujo próximo número está prestes a sair do forno) marcou presença entre as menções honrosas! Fiquei bem feliz também com a menção da Nanquim Descartável do Daniel Esteves que desenhei um capítulo e com a presença do trabalho de alguns parceiros como a Pieces do meu xará Mário Cau, Os Passarinhos do Estevão Ribeiro e o Punny Parker do Vitor Cafaggi. A lista pode ser conferida neste link.

Agora a charge dessa semana para o Jornalistas & Cia.

Certo dia, em meados da década de 1960 na redação da revista Realidade, entrou na redação uma jovem, nem tão jovem, furiosa.

– Onde ele está? Onde está aquele cachorro?

Ela procurava Narciso Kalili, então seu namorado, ou algo mais. Ele correu para a sala dos fundos, mas ela não perdoou. Ficou chamando, com tal veemência, que ele veio para a sala da frente. Vale dizer que a redação da Realidade era uma salsicha. Tinha um pequeno hall de entrada e, à direita, a redação, depois de uma porta a Arte e, depois de uma outra portinhola, um tipo de dispensinha. Se, em vez de entrar à direita, você virasse à esquerda, entraria na sala do Robert (na época ele era chamado de Robert) Civita, então diretor de Redação da revista.

Ela pulou no pescoço dele quando ele pisou na sala da frente. O Narciso caiu e ela, deitada sobre ele, continuou batendo e dizendo coisas. Narciso era elegante e não reagia, pois era incapaz de bater numa mulher. Só pedia que ela parasse. A redação virou um barraco, segura, pega, tira ela daí, falavam alguns, outros riam gostosamente e outros, ainda, eram da turma do “deixa que eles resolvem”. Nesse momento, atraído pela barulheira, Robert Civita abriu a porta de meio vidro jateado que dividia o hall da turma. Tomou o maior susto ao ver a cena, deu um passo atrás, sorriu e disse, com aquele sotaque inexorável:

– Opa, hoje temos farwest aqui…

Fechou a porta e, também elegante e discretamente, retirou-se para sua sala.

No fim, Narciso e aquela simpática senhora (era simpática, sim) foram acabar a “conversa” lá no fundão da Arte. Depois de uns 20 minutos saíram os dois, de mãos dadas e em paz.

Algum tempo depois, na reunião de pauta, na mesma Realidade, lá pelas 5 da tarde, e o Narciso perguntou:

– Gente, será que essa reunião vai demorar muito?

Alguém respondeu que não havia pressa e perguntou por que ele queria saber. Narciso respondeu com muita calma:

– Gente, é que eu vou casar hoje, às 7 da noite. Ainda preciso ir para casa, tomar banho, me vestir…

A quem possa interessar: ele se casou com aquela mesma jovem. E foram felizes por muitos anos.

O imortal e a piada mais absurda e politicamente incorreta de todos os tempos

Antes de mais nada, tem tirinha nova no TopBlog, a primeira de 2010! E pra começar bem o ano, o palhaço irá nos contar a piada mais absurda e politicamente incorreta de todos os tempos! Confiram!

Abaixo segue a charge dessa semana para o Jornalistas&Cia.

Frederico Branco, o Fritz, recebeu de um parente do interior um peru, mas vivo, ao qual imediatamente se afeiçoaram os filhos, que o consideraram animal de estimação e tiveram que ser enviados para a casa da avó no dia do que chamaram de “assassinato do peru”.

Urbanoide, o Fritz só sabia que era preciso dar pinga ao peru e, numa crônica que escreveu a respeito, conta que todo mundo tomou a cachaça, que respingou na roupa da família inteira, mas o peru se mostrou absolutamente abstêmio. Mesmo sem a pinga, Frederico resolveu matar o bicho e, sem conhecimento da tecnologia adequada, pegou o facão da cozinha e deu uma punhalada no peito do peru.

“Voou pena para todo lado, mas o peru sobreviveu”, relembrava ele, que resolveu então enforcar o peru no varal da área de serviço, usando a cordinha da cortina, o que resultou em novo fracasso, pois só serviu para soltar o esfíncter da ave e espalhar fezes na cara do Frederico. Ele então perdeu a paciência, pegou o trezoitão na gaveta e matou o peru com um tiro certeiro, realmente eficaz, mas que provocou a denúncia dos vizinhos e levou o Frederico a se explicar na Delegacia e muito bravo, porque em vez de fazer o boletim de ocorrência, delegado e também investigadores rolavam de tanto rir da história, que acabou virando crônica.

10 anos de UniversoHQ

O UniversoHQ, o maior portal sobre quadrinhos do Brasil, está completando dez anos de existência hoje! E, para celebrar esta data, eles fizeram um belo especial com textos e desenhos de mais de 200 ilustres convidados ligados à area.

Essa aqui foi a minha mensagem para eles:

As mensagens dos demais convidados e da própria equipe do UniversoHQ, pode ser vista neste link.

Não deixem de conferir e prestigiar o trabalho deste pessoal que vem há 10 contribuindo de forma única para o mercado de quadrinhos no Brasil.

Parabéns Sidão, Samir e cia!

As melhores HQs de 2009

2009 foi um ano e tanto para os quadrinhos no Brasil. Diversas obras imporantes chegaram por aqui e, graças aos investimentos de grupos editoriais de peso, tem cada vez mais conquistado um público mais amplo que normalmente não acompanha a área de HQs.  O mercado e os leitores só tem a ganhar com isso. Agora, sem mais delongas, eis a minha seleção das melhores histórias em quadrinhos publicadas este ano no Brasil:

1 – Retalhos – Craig Thompson (Quadrinhos na Cia)
Neste calhamaço de quase 600 (belíssimas) páginas o autor conta sua própria história, da infância até a vida adulta, em uma cidade do estado de Wisconsin, com maestria e lirismo. Thompson consegue explor sua fé, suas relações familiares e amorosas com uma coragem e uma sinceridade absolutamente rasgantes e encantadoras.

2 – Jimmy Corrigan – O garoto mais esperto do mundo – Chris Ware (Quadrinhos na Cia)
Outra obra do mesmo quilate de Retalhos também chegou ao Brasil este ano. Ao longo desta década, nenhum outro artista tem explorado (e extrapolado) tanto os limites da linguagem dos quadrinhos como Cris Ware. A história gira em torno de um tímido e solitário homem de meia idade que recebe uma carta do pai que nunca conheceu e parte uma viagem para encontrá-lo. Um livro para ser lido e relido e que é capaz de, ao mesmo tempo, dar um nó na cabeça e um aperto no coração.

3 – Nova York . A Vida na Cidade Grande – Will Eisner (Quadrinhos na Cia)
Will Eisner talvez seja o autor ocidental mais importante de quadrinhos que já existiu e esta foi a melhor e mais caprichada edição de sua vasta obra já publicada no Brasil.  O álbum compila 4 de suas melhores trabalhos (O Edifício, Pessoas Invisíveis, Caderno de tipos urbanos e Nova York: A Grande Cidade) e retrata a vida nos grandes centros urbanos com a visão e a sensibilidade única de um grande mestre.

4 – Sábados dos meus amores – Marcelo Quintanilha (Conrad)
O principal lançamento nacional deste ano. Consiste em uma série de crônicas sobre o cotidiano brasileiro no qual Quintanilha mostra a poesia que pode existir em acontecimentos aparentemente banais.

5 – MSP 50 – Diversos autores (Panini)
A Turma da Mônica é verdadeiro patrimônio cultural nacional e ganhou uma belíssima homenagem no qual 50 artistas foram convidados para desenhar (com seus próprios traços e estilos) histórias com os memoráveis e inesgotáveis personagens de Mauricio de Souza.

6 – Peanuts Completo – 1950/1952 – Charles Schulz (L&PM)
Uma das mais famosas tirinhas de humor de todos os tempos finalmente ganhou uma coleção a altura de sua importância. Cada volume compilará 2 dos quase 50 anos(!) de publicação de Charlie Brown, Snoopy e cia. Imperdível.

7 – Macanudo # 2 – Liniers (Zarabatana)
A melhor tirinha da atualidade ganha seu segundo volume no Brasil. O humor inteligente e o traço delicado do argentino Liniers são deliciosamente irresistíveis.

8 – Local – Fim da Jornada – Brian Wood & Ryan Kelly (Devir)
Surpreendente conclusão da história de Megan McKeenan que, a cada episódio, reside em uma cidade diferente dos Estados Unidos em busca de de si mesma e de seu lugar no mundo. Brian Wood é um dos melhores escritores da nova geração de roteiristas norte-americanos e esta é uma ótimo oportunidade de conhecer seu trabalho que também pode ser lido na revista mensal Vertigo e na série ZDM – Zona Desmilitarizada ambas da editora Panini.

9 – Yeshuah: assim em cima, assim em baixo – Laudo e Omar (Devir)

Os profílicos Laudo e Omar já estão no mercado há um bom tempo e entregam aqui o primeiro volume do que parece ser sua obra-prima. A história de Jesus Cristo é contada do ponto de vista do povo hebraico. Um trabalho notável, belamente ilustrado, com ritmo impecável e fundamentado em uma riquíssima pesquisa.

10 – O Chinês Americano – Gene Luen Yang (Quadrinhos na Cia)
A história sobre um jovem imigrante chinês vivendo nos Estados Unidos realizada pelo novato Gene Luen Yang foi indicada a importantes prêmios literários e recebeu elogios rasgados da imprensa norteamericana, merecidamente. Trata-se de uma bela fábula sobre preconceitos e aceitação, indicado para pessoas de todas as idades.

Menções honrosas: Umbigo sem fundo – Dash Shaw (Quadrinhos na Cia), Copacabana – Lobo & Odyr (Desiderata), Verão Índio – Hugo Pratt & Milo Manara (Conrad), Assuntos de família – Will Eisner (Devir), Fracasso de público # 1 – Alex Robinson (Gal), The Umbrella Academy – Suíte do Apocalipse – Gerard Way, Gabriel Bá & Dave Stewart (Devir), Mutts: os vira-latas – Patrick McDonnel (Devir), Eu sou legião – Fabian Nury e John Cassaday (Panini), Homunculus – Hideo Yamamoto (Panini), Fábulas – a marcha dos soldados de madeira – Bill Willingham, Mark Buckingham, Steve Leialoha & P. Craig Russell (Panini) e Ex-Machina: Fato vs. Ficção – Brian K. Vaugh & Tony Harris (Panini).