Nanquim, Som & Fúria #23

Jack White

Jack White

O guitar hero da minha geração e um dos nomes mais importantes do rock’n’roll dos últimos quinze anos. Depois de encabeçar três ótimas bandas (White Stripes, Dead Weather e Raconteurs), Jack segue em carreira solo com o Blunderbuss, um discaço que só cresce a cada nova audição.

Nação de muares

Charge para o Jornalistas & Cia

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A história dessa semana vem em boa hora para pensarmos melhor em quem elegemos como nossos governantes.

A história, ironicamente, foi narrada por um governador de estado na abertura do Seminário Internacional de Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais.

Tema denso e tenso, ao final da exposição, para descontrair o plenário, o governador contou um causo ocorrido lá pelos anos 1940 ou 1950 na sua terra natal, Pindamonhangaba, no interior de São Paulo.

Os vereadores da cidade, condoídos com a triste situação dos animais que puxavam as carroças, fizeram e aprovaram uma lei que concedia aposentadoria a todos após 30 anos de bons serviços prestados à comunidade. E para abrigar os animais que deixariam a faina diária, trataram logo de encontrar um belo terreno, com fartura de pasto e alimentação, para que passassem o resto de suas vidas tranquilos, como prêmio pela dedicação ao trabalho e ao povo pindamonhangabense.

Um dos jornais da cidade tinha um colunista muito famoso por “pegar no pé” dos políticos e autoridades locais e por fazer comentários sarcásticos das coisas bizarras e erradas que aconteciam na cidade ou região.

O nome da coluna já dizia tudo: É pena pra todo lado. E aprovar uma lei de aposentadoria para muares era o que se poderia chamar de “o ó do borogodó”. Prato cheio para a coluna. Dito e feito.

Tão logo esse colunista soube da lei aprovada pela Câmara dos Vereadores e sancionada pelo prefeito, publicou no espaço: “Os nobres edis de Pindamonhangaba aprovaram uma lei concedendo aposentadoria para os muares, pelos bons serviços prestados ao município. Mas quero aqui fazer uma denúncia. Essa lei é absolutamente INCONSTITUCIONAL. É até possível que os nobres edis não saibam, mas no Brasil é proibida a prática de legislar em causa própria”.

É um caso banal perto dos inúmeros absurdos que vemos por aí, afinal de contas, as pobres mulas mereciam seu descanso depois de tanto prestarem serviço à comunidade. Mas quem seriam parentes dos muares: os políticos, como sugeriu o jornalista, ou o povo que continua elegendo um número sem fim de pilantras até hoje?

EntreQuadros no ManoloSanctis e oficina no Raízes

Nesta sexta-feira, dia 11 às 8h, darei uma oficina de histórias em quadrinhos no Festival de Literatura do Instituto de Ensino e Cultura Raízes, em Boiçucanga no litoral paulista. É sempre bom ter este tipo de contato com o público e, quem sabe, até mesmo com algum futuro autor de quadrinhos. De antemão, já gradeço imensamente a organização do evento pelo convite e por reconhecer o valor artístico das HQs. Nos vemos lá, pessoal!

Minha primeira graphic novel, a EntreQuadros – Círculo Completo, pela qual recebi duas indicações no Troféu HQ Mix deste ano (Novo Talento – Roteirista e Novo Talento – Desenhista), está disponível para leitura agora também no ManoloSanctis, uma comunidade de quadrinhos on-line francesa do qual também faço parte.

Confiram:

EntreQuadros – Círculo Completo by Mario Cesar

Também disponibilizei uma versão em inglês lá. I also published an english version of my graphic novel on ManoloSanctis. Check it out:

Full Circle by Mario Cesar

A edição impressa está à venda com frete gratuito este mês no site da Balão Editorial.

Nanquim, Som & Fúria #22

Silva

Silva

O capixaba Lúcio Silva Souza resolveu assinar seu trabalho usando apenas o seu nome do meio, um dos sobrenomes mais comuns do Brasil. Mas o comum passa longe de seu trabalho. Tem apenas 23 anos, estuda música desde os 2 (!) anos de idade, e, até agora, lançou apenas um EP com 5 músicas que já o colocou entre as maiores promessas da música brasileira contemporânea. Seu trabalho vem sendo comparado a Los Hermanos, Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e Thiago Pethit, mas também agrega novos temperos da música eletrônica, especialmente do dubstep e do chillwave. Uma mistureba da boa e deliciosa de ouvir. Silva fará show no Festival Sónar São Paulo no dia 12 e dia 15 também se apresenta no Sesc Pompéia. Seu EP pode ser escutado em sua página no Soundcloud: http://soundcloud.com/silvasilva/sets/silva

Fiquem abaixo com as belíssimas “Imergir” e “A Visita”:

Locutores bêbados

Charge para o Jornalistas & Cia

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A história dessa semana é mais uma contribuição de Sandro Villar.

Na cidade de Adamantina (SP), terra natal de Cláudio Amaral, Gabriel Manzano Filho e Carlos Tramontina, os moradores aguardavam ansiosamente o momento do encontro dos ponteiros do relógio, marcando 12 horas. É que ao meio-dia em ponto e vírgula, naqueles criativos anos 1960, começava na Rádio Brasil o programa do locutor que só falava bêbado. Por uma questão de respeito, visto que o personagem já foi embora deste mundo de ilusões, seu nome será preservado. Teria sofrido uma desilusão amorosa, motivo que o levou a beber mais do que o personagem do cantor Vicente Celestino no filme ‘O Ébrio’. Um locutor de porre no rádio só pode mesmo chamar a atenção. O programa dava audiência em Adamantina. Os ouvintes se divertiam com o apresentador, ora agressivo, ora patético, que, ao contrário dos garotos da época, não amava os Beatles nem os Rolling Stones.

Sem ser nem uma coisa nem outra – agressivo e patético –, um locutor da Rádio Record, cismou que o relógio marcava mais de 24 horas. Um belo dia, tomou umas doses a mais de cachaça e entrou no estúdio para anunciar a hora certa. E meteu bronca. Assim que o operador abriu o microfone, o locutor, com voz pastosa, mandou ver: “Em São Paulo, são 29 horas”.

E um locutor de Presidente Prudente, que virou nome de rua, também se complicou na hora de dar a hora certa por estar de pileque. Nos anos 1980, ele trabalhava na Rádio Difusora, que também virou igreja eletrônica, e apresentava o programa noturno Música Sem Compromisso. Uma noite, no momento de anunciar a hora certa, assim falou ao respeitável público ouvinte: “Você ouve Difusora e Música Sem Compromisso. Em Prudente são 11 horas e 77 minutos”. Isso é que é hora certa sem compromisso com a exatidão.

Um outro caso famoso é o de um locutor-noticiarista de São Paulo, também amante da loirinha e da branquinha. Este locutor protagonizou outro episódio que, segundo as línguas ferinas, quase acabou com o seu casamento. Tarde ensolarada de sábado, nada para fazer em casa, ele resolveu beber num bar. A mulher dele tinha um cachorrinho poodle que era o seu xodó. E pediu ao marido para levar o cão junto, argumentando que o animal já estava ficando neurótico de tanto ficar dentro do apartamento. Meio a contragosto – ou inteiro a contragosto –, ele resolveu atender a esposa. Botou o cachorro debaixo do braço, ligou o carro e saiu em disparada, pois estava doido para molhar a goela. Ao chegar ao bar deixou o cãozinho dentro do carro e foi beber com os amigos. Logo depois o cachorro começou a latir, e os latidos passaram a incomodar. Ele não teve dúvidas: retirou o bicho do automóvel, afrouxou a coleira e o amarrou no parachoque traseiro. O cão se aquietou e ele voltou ao bar.

Lá pelas tantas, depois de tomar aquela e muitas que mataram o guarda e toda a corporação, o que explica a falta de policiamento na cidade, voltou para casa. Entrou no carro e foi embora correndo. Estacionou, pegou o elevador e entrou no apartamento. “Cadê o cachorro?”, perguntou a “dona da pensão”. Ele respondeu com um “Ah!”. Desceu ao estacionamento e, atrás do carro, só encontrou a coleira. Para tentar limpar um pouco a barra, que estava mais suja do que cueca de mendigo, ele teria inventado uma história: à esposa, explicou que havia deixado o cachorro em uma clínica veterinária e que o pegaria na segunda-feira. Para a mulher não desconfiar de nada, seu plano era comprar outro da mesma raça, um verdadeiro clone do pobre coitado que morreu arrastado e esfolado no asfalto.

Nanquim, Som & Fúria #21

Santigold

Santigold

Santi White despontou em 2007 e suas músicas foram um sopro de novidade no pop ao misturar as novas tendências da música eletrônica e hip hop com o synth-pop oitentista. De lá pra cá, fez uma penca de contribuições com outros artistas (Beastie Boys, Julian Casablancas, Basement Jaxx, N.A.S.A. entre outros) e viu seu som e seus colaboradores e produtores do Major Lazer estourarem no mainstream. Somente agora ela lança seu segundo álbum, o ótimo Master of My Make Believe, com produção e colaborações de Switch e Diplo (Major Lazer), Dave Sitek (TV on the Radio), karen O e Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs) entre outros. Um discaço onde ela amplia sua sonoridade com elementos de música jamaicana e africana Santigold e também solta o verbo contra a obsessão atual por fama, contra a máquina política e contra o atual estado maçante da dita música mainstream. Santigold é o tal do pop com alma e conteúdo que muitos alegam ser, mas que, geralmente, não passa de propaganda falsa estampada na embalagem.

Greve

Charge para o Jornalistas & Cia

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A história dessa semana é de Paulo Nogueira na qual ele narra o fracasso que foi a greve dos jornalistas no ano de 1979.

Acontecera o pior: os próprios jornais noticiaram a greve. Os grevistas, no apogeu do entusiasmo pré-greve, sonhavam que os jornais simplesmente não sairiam porque não haveria gente para fazê-los.

Mas saíram, feitos por fura-greves que, num efeito colateral trágico para todos os jornalistas, eles próprios incluídos, mostraram aos patrões que era possível trabalhar com redações bem mais enxutas do que as que existiam naqueles dias. Nem a famosa arma secreta prometida numa assembleia por Juca Kfouri – que fazia parte do comando de greve – foi capaz de salvar o movimento.

Uma epidemia de greves tomou o País depois que os metalúrgicos abriram a porta. Umas foram bem-sucedidas. A dos jornalistas de São Paulo foi um monumental fracasso.

EntreQuadros – Círculo Completo na íntegra e entrevista para Monotipia

Como já noticiei, eu e a Balão Editorial disponibilizaremos meu livro EntreQuadros – Círculo Completo para leitura gratuita na internet para celebrar minhas duas indicações ao Troféu HQ-Mix nas categorias Novo Talento – Roteirista e Novo Talento – Desenhista.

Iríamos publicar em capítulos – e o primeiro já está on-line -, mas, para agilizar, resolvemos publicar a história completa de uma vez.

Tenham uma ótima leitura:

Open publication – Free publishingMore entrequadros

E não se esqueçam de que a edição está à venda com desconto e frete gratuito este mês no site da Balão Editorial e não deixem de conferir e curtir a página da EntreQuadros no FaceBook sempre com as últimas novidades!

Uma outra novidade é que concedi uma entrevista sobre o meu trabalho para edição da revista Monotipia deste mês. Confiram:

Open publication – Free publishingMore entrevista

O grande (e diminuto) fã de Ulysses Guimarães

Charge para o Jornalistas & Cia

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A história dessa semana é novamente uma colaboração de Plínio Vicente da Silva.

Assim que se tornou correspondente do Estadão, João Mendes passou a ser consultor de Plínio. Joãozinho era filho de antiga família de fazendeiros roraimenses, mas já em estado de decadência financeira, conhecia todo mundo e cada palmo do território. Sabia os nomes de todas as aldeias indígenas, quando haviam sido criadas, seu tamanho e localização e quem eram os tuxauas de cada maloca.

Um dia, precisando de informações sobre um garimpeiro, contrabandista e traficante, que as suspeitas indicavam ser amigo de um delegado da Policia Federal, Plínio levou Joãozinho Melo para uma cervejada no bar da Mangueirinha, às margens do rio Branco, no centro histórico de Boa Vista. Certamente teria boas informações sobre o cara, pois já os vira juntos em algumas oportunidades.

Ao chegar, Joãozinho se desculpou pelo atraso e justificou: tivera que passar na loja de decorações para apanhar um pôster do Dr. Ulysses, que mandara emoldurar. Presente de um deputado federal, era um desses que decoram gabinetes, no qual o sujeito faz pose de estadista.

Durante a conversa Joãozinho dividia o olhar entre o copo de cerveja e o quadro. O que contou valeu matéria que levou à prisão do garimpeiro, já condenado por crimes cometidos em Bauru, no interior de São Paulo, e que integrava a lista de procurados da Interpol. Por sua vez, o delegado acabou réu em processo administrativo, indiciado em inquérito pela PF e exonerado. Mais tarde, considerado culpado pela Justiça Federal, foi condenado a cumprir pena alternativa: prestar durante um ano defesa gratuita a réus primários.

Um dia, conversando com o pessoal da sucursal de Brasília, Plínio soube que o Dr. Ulysses iria a Boa Vista pela primeira vez. Em plenas vésperas das eleições de 1986 e empurrado pelo Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney estava surrando o PDS em quase todos os Estados. Tanto é que elegeu 22 governadores contra apenas um pedessista, o de Sergipe, Antonio Carlos Valadares (Nessa época não havia eleições diretas em Brasília e nos territórios federais e o Tocantins só nasceria com a promulgação da Constituição de 1988).

Em Roraima a elite ainda era alinhada com os militares, daí os apelos para que ele viesse fortalecer o partido na capital macuxi. Foi assim que garantiu pelo menos uma das quatro vagas para deputado federal a que o território tinha direito no Congresso Nacional.

Plínio já conhecia Ulysses e não por conta de sua profissão, mas por conta de seu falecido sogro, Sálvio de Campos que fora amigo dele na juventude em Rio Claro. Sempre que coincidia o fato de ambos estarem na cidade, eles e mais um grupo de amigos da mesma época acabavam se encontrando. Numa dessas ocasiões, Plínio foi a Rio Claro com sua noiva, Maria Salete, e mais a família dela para uma visita a parentes. Foi então que passou cerca de duas horas no encontro dos velhos amigos. Mais tarde, já jornalista, encontrou-o duas vezes, ambas em Brasília.

Quando deu a notícia a Joãozinho Melo os olhinhos dele arregalaram, acompanhados de um sorriso franco de felicidade, seguidos de uma expressão de ansiedade: será que ele conseguiria um encontro com seu ídolo?

No dia da chegada, Plínio levou Joãozinho ao hotel em que o dr. Ulysses se hospedou. Quando ele desceu do apartamento já no final da tarde e entrou no lobby, fez questão de cumprimentá-lo. Ele abriu um sorriso, veio ao seu encontro, lhe deu um abraço e perguntou: “E o meu amigo Sálvio, como ele está?”. Lamentou e contou que foram muito amigos, o que deu à conversa a oportunidade que esperava.

Antes que seus assessores o levassem, pediu-lhe um favor: fazer uma foto dele com um dos seus maiores fãs. Apresentei-lhe Joãozinho, cuja cabeça batia na barriga do então presidente da Câmara dos Deputados. Disparei sua velha Yashica três vezes e mais não fiz porque ele desapareceu no meio das centenas de pessoas que o aguardavam na porta do hotel. Mas João não, ficou ali, arriado no sofá, olhando para a mão que cumprimentara o Dr. Ulysses.

À noite, no discurso que fez na avenida Venezuela, numa área entre os bairros Messejana e Liberdade, dois vultos se destacavam no palanque pela enorme diferença de tamanho: Ulysses Guimarães e João Melo.

No dia seguinte, eles se encontraram para uma cervejada no bar da Mangueirainha e Plínio entregou a um sujeito ainda emocionado as fotos e os negativos. Não muito tempo depois, a foto virou um novo pôster, aquele do dia em que ele conheceu o dr. Ulysses. E que ficou na parede da sala de sua casa até o dia em que, atacado por uma grave cirrose hepática, morreu, em 9 de dezembro de 1989.

EntreQuadros – Círculo Completo: Capítulo 1

Celebrando minhas duas indicações ao Troféu HQ Mix nas categorias Novo Talento – Roteirista e Novo Talento – Desenhista, eu e a Balão Editorial disponibilizaremos a EntreQuadros – Círculo Completo para leitura gratuita em capítulos na internet.

O primeiro capítulo já está on-line! Em breve, teremos os próximos. Confiram:

Circulo Completo cap1

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E vale lembrar que a edição está à venda com desconto e frete gratuito este mês no site da Balão Editorial e não deixem de conferir e curtir a página da EntreQuadros no FaceBook sempre com as últimas novidades!