Estava sem postar as charges do Jornalistas & Cia por conta das novidades sobre o Pequenos Heróis, mas seguem abaixo as charges das últimas semanas.
Aliás falando em Pequenos Heróis, segue abaixo o link das primeiras (e empolgantes) resenhas sobre o livro:
No site Contraversão por Raphael Fernandes (Editor da MAD)
No site Blog dos Quadrinhos do UOL por Paulo Ramos
No Gibizada por Télio Navega
Os suspensórios e o motorista
Nem sempre, mas em algumas das estripulias envolvendo jornais na década de 1970 a vítima era gente sem qualquer envolvimento com as redações. Como o advogado Élbio Federic Pacheco, já falecido.
Heráldico cidadão que passou a infância nos períodos mais representativos da avenida Paulista, em São Paulo, assinante de raiz do Estadão, certa vez foi visto, em reunião social, com uma camisa em que havia duas listras verticais, coisa incomum para a época.
Um amigo lhe perguntou: “Está de suspensórios?”; ele reagiu bravo. Foi o que bastou para que, na edição do domingo seguinte do seu jornal preferido, um anúncio classificado mostrasse: “SUSPENSÓRIOS – Colecionador procura modelos novos ou raros, dá preferência aos que tenham pertencido a personalidades. Tratar com dr. Élbio, telefone……….”.
Para a manha ser completa, cuidou-se de pedir a um morador de Fortaleza que telefonasse, a cobrar, em resposta ao anúncio. Dr. Élbio atendeu à chamada e ouviu: “Olha, vi o anúncio no Estadão e tenho suspensórios que pertenceram ao capitão Virgulino, o cangaceiro. Interessa?”
Heráldico – mas bem-humorado –, dr. Élbio não deixou por menos. No domingo seguinte, publicou um anúncio assim, no mesmo jornal: “MOTORISTA PARTICULAR – família de fino trato procura motorista particular. Remuneração: 15 salários mínimos/mês, folgas semanais e vale-refeição”. Como referência para as tratativas, colocou o endereço do amigo, cuja residência, no mesmo domingo, foi tomada por interessados no emprego.
Dia de Praia
Em julho de 1986 Wilson Baronceli se mudou de São Paulo para o Rio, contratado pela Souza Cruz como gerente de Comunicação Social. Ficou18 anos no Rio, seis anos na empresa e outros 12 com sua própria agência de comunicação. Antes, além das experiências como bancário – ocupação a que se dedicava grande parte dos jovens da época –, havia passado, entre outros, por Estadão, Abril, rádios Globo e Transamérica, TV Tupi, Rio Gráfica, e assessorias (Metrô, IMK e Pão de Açúcar).
Na “viúva”, ou simplesmente Souza, como costumavam chamar a empresa, entrou como segundo de Vitor Sznejder, atuando na assessoria de imprensa e nas publicações. Vitor, aliás, que ele não conhecia e que segue seu amigo até hoje. É ele o protagonista involuntário deste caso.
Naquela época, o cigarro ainda tinha algum status, a empresa era uma das principais arrecadadoras do País, empregava cerca de 20 mil pessoas diretamente e, em função disso, eram muitos os jornalistas que recebíamos. Entre eles, alguns estrangeiros, que invariavelmente eram convidados para almoçar em bons restaurantes da cidade antes ou após as entrevistas.
Um desses estava no Rio pela primeira vez, o levaram para almoçar no Porcão de Ipanema, que integrava uma rede de churrascarias rodízio muito conceituada na cidade – e, claro, fazia um sucesso tremendo entre os gringos, pouco acostumados a ver tanta carne junta. Acho que era uma 4ª.feira, tarde ensolarada.
Como a sede da Souza ficava no centro da cidade, na Candelária, resolveram voltar pela orla de Copacabana a fim de que o convidado pudesse conhecer, ainda que pela janela do táxi com ar condicionado, a praia mais famosa do mundo. Óbvio que ela estava cheia, o que acontece sempre que o tempo esquenta no Rio (ou seja, praticamente o ano todo).
Em inglês, Vitor falava sobre as belezas da cidade. O gringo só olhando pela janela. De repente, ele pergunta sem se virar para nós:
– Esse pessoal não trabalha?
Sem saber direito o que responder, Vitor olhou para Wilson pedindo socorro, mas este fez cara de paisagem, porque nada de criativo lhe ocorreu para dizer. Ele então tentou consertar:
– A maioria é estudante…
O gringo murmurou um OK, continuou a olhar pela janela e depois de uma breve pausa virou-se para eles e arrematou:
– Mas esse pessoal não estuda?
A única resposta que teve foram dois sorrisos. Amarelíssimos. Também, não precisava mais do que isso…