Tom desafinado

Charge para o Jornalistas & Cia

Esta história é de Eduardo Ribeiro, diretor do J&Cia (a.k.a. meu chefe).

O episódio se deu em 1987. Eram tempos em que se celebravam os finais de ano com grandes eventos para jornalistas – lautos jantares, brindes de alto valor, shows e o que mais pudesse demonstrar prestígio junto a esses profissionais, desde sempre considerados formadores de opinião.

Eduardo organizou naquele ano um jantar no Olímpia (casa de shows na Lapa, em São Paulo, fechada já há alguns anos), cuja atração era ninguém menos do que Tom Jobim. Realmente, uma ousadia e gente saindo pelo ladrão atrás de convites.

Definido o número de convidados, partiu para a formação das mesas. Ainda sem grande intimidade com o setor, mesmo já estando com um ano e meio de casa, fez, como diriam os futebolistas, o “seu melhor” para acomodar as pessoas em pares com alguma afinidade – ao menos na minha visão. Eram mesas de quatro pessoas e eu tratei de juntar casais, colegas de redação, outros convidados, para evitar aquele desagradável tráfego de pessoas buscando lugar sem qualquer orientação. Não, isso lá não aconteceria. Eduardo recebia pessoalmente quem chegasse e encaminhava à mesa reservada.

No meio da muvuca, antes da apresentação do Tom, chega com a esposa o Ari, profissional que à época já era consagrado na cobertura setorial. Foi recebido efusivamente e Eduardo lhe diz o número da mesa. Não satisfeito, encheu o peito e falou: “Ah, Ari, você vai ficar ao lado de fulano de tal, assessor de comunicação da empresa tal”.

Ao organizar as mesas, na hora de escolher o lugar do Ari, pensou: “Será bacana pô-lo na mesma mesa deste assessor, pois trabalha numa empresa que sem dúvida alguma é uma das principais fontes de informação dele. Será legal eles ficarem juntos na festa. Vai ser demais!!”

De fato, foi uma festa inesquecível, brilhante mesmo. Tom Jobim esteve irrepreensível, como sempre, e não houve quem deixasse o Olímpia sem um suspiro.

Mas para chegar àquele momento Eduardo teve que ser de circo e administrar uma crise que poderia ter tomado proporções desastrosas e até custado o seu suado emprego. Ao falar ao Ari o nome da pessoa ao lado de quem se sentaria, ele ficou vermelho e azedou imediatamente. Ato contínuo disparou: “Na mesma mesa desse sujeito eu não sento. Isso é uma palhaçada! Ou você me coloca num outro lugar ou me retiro agora mesmo da festa!”.

O mundo veio abaixo. Eduardo cheguou a pensar que fosse brincadeira. Quando insinuou isso, Ari ficou ainda mais azedo, ameaçando ir embora. E o povo chegando e vendo a cena.

No fim das contas, conseguiu arranjar outro lugar, sabe lá Deus como, porque eram todos marcados e não houvera uma única desistência. Ari foi acomodado bem longe do seu desafeto, que nunca chegou a saber dessa história. Eduardo nunca soube o que houve entre eles para tal azedume, já que seguramente continuaram a se encontrar e a se relacionar profissionalmente pelas décadas seguintes.

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