O fim da brincadeira e um novo golpe na praça

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MAS QUE PUXA!

As coisas mudaram – e muito – nas redações. Os computadores substituíram as velhas Olivetti, as Remington marronzinhas. Os telefones de disco desapareceram e hoje se tornaram raridades, objetos de decoração. A moçada só conhece os de tecla. Os celulares nas mãos dos repórteres substituíram as fichas, os orelhões. Sem falar da acoplagem com os notebooks. A matéria vai direto para a página.

Numa redação quase ninguém nos dias atuais sabe o que é um telex e que os confetes daquelas fitas muitas vezes eram guardados para brincadeiras com os colegas. Deixados dentro dos guarda-chuvas, provocavam irritação nos que os abriam a caminho de casa ou do almoço e recebiam um banho de confetes.

E os cestos de lixo? Na redação do Estadão, no bairro do Limão, lá pelos anos 1980, os cestos eram de lata. Nem se falava de plástico. Tinha um jornalista que se deliciava em chutar as latas. Fazia barulho e assustava os colegas concentrados nas matérias.

O nome, Antero, de sobrenome Grecco. Filho de napolitanos e o mais napolitano dos verdadeiros que conheço, tinha a mania de chutar as latas. E a cada chute vinham gritos de susto, gritos dos demais colegas. A brincadeira era quase que diária. Sadia. Havia reclamações. Tinha quem chiava, dizia que o barulho atrapalhava. Mas nada impedia Antero de continuar com sua brincadeira. Chutando latas. Até que numa certa manhã substituíram as latas pelo plástico. Acabou o barulho. O som não era o mesmo. A surpresa também. Teve gente que aplaudiu. Minoria. Mas a brincadeira ficou na memória daqueles que faziam da redação um lugar também de alegria e não apenas de trabalho.

Outros tempos…

DEPOIS DO GOLPE DA BARRIGA…

O relato é de Luiz Roberto de Souza Queiroz.

Foi no final da década de 1960 e o Meninão, que pouca gente sabia, mas se chamava Álvaro Luiz Roberto Assumpção.

Certa manhã, Meninão cancelou o briefing matinal na casa dele, na rua Gironda, porque passara metade da noite em claro e, mais tarde, contou que no dia anterior fora para a balada, engraçou-se com uma garota da noite e foi com ela para um hotelzinho da “boca do luxo”.

Cumprido o propósito da esticada ao hotel, a menina disse que estava cansada e ia ficar dormindo um pouco mais. Meninão pegou o que pensou ser sua jaqueta negra no encosto de uma cadeira, jogou sobre um ombro e voltou para casa.

Às três da manhã o telefone toca e a garota, dizendo que ele era totalmente louco, explicou que estava na portaria do hotel, enrolada numa toalha, porque Meninão levara, em vez da jaqueta, o vestido, também negro, e ela não podia voltar para casa… de toalha.

Só quase às cinco da manhã uma amiga de boa vontade pegou o carro de um conhecido e foi até o Jardim Europa para que Meninão, da janela do sobrado, jogasse o vestido negro e recebesse, num belo arremesso à distância, a jaqueta que deixara no hotel.

Essa não foi a única história famosa do Meninão em hotéis. Embora hoje só lembrado no cardápio do Paribar, que tem um “filé à Meninão”, ele foi muito comentado em São Paulo quando, no final de outra noitada, mas com uma garota que tinha a esperança de algum dia se tornar “Senhora Meninão”, hospedou-se no Hotel Esplanada – o mesmo em que Oswald de Andrade tomou champanhe com Isadora Duncan e Rudyard Kipling escreveu a Canção do Dínamo, em homenagem à São Paulo da década de 20 (do século passado, por supuesto), que se industrializava febrilmente.

Com franqueza total, Meninão explicou que casamento não estava em seus planos. E quando, após o desideratum, caiu na merecida soneca que se seguia ao ato, a ex-quase-futura noiva, que era vingativa, pegou o sapato de salto agulha e com ele deu violentíssima pancada no saco do Meninão.

Os comentários a respeito correram no meio jornalístico por culpa do contínuo que, por uma semana, ia buscar o texto diário que Meninão, preso ao quarto do Hotel Esplanada, de pernas abertas e as partes pudendas extremamente inchadas, escrevia à mão para o jornal.

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