Las Arrugas de Paco Roca

Durante minhas férias pude conhecer um pouco do mercado de quadrinhos na Espanha. Um dos autores de maior destaque por lá atualmente é o premiadíssimo Paco Roca cujos álbuns mais recentes têm lugar de destaque nas livrarias ao lado de Watchmen, Paulo Coelho, Crepúsculo, Dan Brown e cia.

Um reconhecimento de público e crítica mais do que merecido, dois de seus álbuns que li (Arrugas e Las Calles de Arena) já o colocaram entre os meus autores prediletos. Seu trabalho me encantou tanto que resolvi fazer algo que não fazia há um bom tempo: escrever resenhas.

A primeira, do Arrugas, saiu hoje no UniversoHQ e pode ser conferida neste link.

Tirinha nova e FIQ 2009

Hoje tem tirinha nova no TopBlog. Confiram!

E o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) está chegando, começa semana que vem na cidadede Belo Horizonte!

Em sua sexta edição, o FIQ já se transformou em um dos principais eventos de quadrinhos do Brasil.

Este ano a lista de convidados inclui o francês Guy Delisle (Pyongyang, Crônicas Birmanesas), o norte-americano Graig Thompson (Retalhos), o argentino Liniers (Macanudos) entre vários outros craques da nona arte.

A programação completa pode ser conferida no site do evento.

http://www.fiqbh.com.br

À prova de surdez

Charge para o Jornalistas & Cia.

Essa é daquelas histórias difíceis de saber se é real ou apenas lenda, sobretudo pelos personagens envolvidos.

Corria, sabe-se lá, um ano qualquer entre as décadas de 1960 e 1970 e o cenário era a Folha de S. Paulo, que ainda não era o maior jornal do Brasil, embora fosse já um dos principais. Um de seus editores, que muitos consideravam um dos maiores contadores de “causos” do Jornalismo, era o saudoso José Aparecido, falecido anos atrás em Presidente Epitácio, no interior de São Paulo.
Meio de jornada, lá pelas três da tarde, entra na redação um senhor bem trajado, de estatura mediana, querendo fazer uma reclamação. À sua frente estava o José Aparecido, profissional cortês, atencioso, de fala mansa e um jeito todo caipira de ser.

Sua mesa era a primeira, logo na entrada da redação, e inevitavelmente era a ele, quando ali estava, que as pessoas se dirigiam quando chegavam. Mas como a função dele não era de recepcionista…

Prestativo e sem perder a oportunidade, Zé ouviu o cidadão com a maior atenção, deixou que contasse a sua história, pediu detalhes, mostrou-se solidário e, aliando-se à causa, deu-lhe total razão, concordando que aquele tipo de coisa realmente não poderia acontecer. Finalmente, recomendou àquele senhor que fizesse a reclamação diretamente ao chefão, que era o cidadão que ficava lá atrás, na última mesa, e que, veja só que sorte!, estava ali naquele dia exatamente para ouvir as queixas dos leitores…

Muito agradecido, o homem, certamente sem perceber os vários sorrisos que se esboçaram dos demais colegas nas mesas em volta do Zé Aparecido, pôs-se em marcha, resoluto, para falar com o chefão, cheio de razão, sobretudo após a encorajadora conversa com aquele amigo simpático que o havia recebido.

Deu uns quatro passos quando ouviu um chamado ansioso do Zé Aparecido.

– Ei, senhor! Por favor, por favor, escute…

Imediatamente o homem estancou o passo e virou-se, ouvindo a seguinte recomendação:

– Esqueci de avisá-lo e ainda bem que me lembrei, porque se não o senhor ia passar o maior carão. Fale bem alto, porque ele é muito surdo. E fica profundamente irritado quando falam baixo com ele, porque não consegue escutar direito. Boa sorte!

Falou isso e começou, ato contínuo, a ajeitar papéis na mesa, meio que cronometrando a chegada e a abordagem que seu interlocutor faria com o chefe, por sua recomendação.

Sua mesa era separada da mesa do chefe por uns 30 passos e se houvesse uma câmara filmando e esse filme fosse passado em câmara lenta, poderíamos seguramente afirmar que a cada passo que o homem dava Zé movia-se em direção da escada que dava para a rua.

A redação parou para ver a cena.

O homem chegou em frente à mesa do chefe, parou e, com uma voz muitos decibéis acima do normal, vociferou tonitruante:

– BOM DIA MEU SENHOR, EU VIM AQUI FAZER UMA RECLAMAÇÃO CONTRA O SEU JORNAL!

Foi a maior confusão. O chefe, que estava desprevenido e entretido com uma matéria qualquer, tomou o maior susto e quase caiu da cadeira. Na fração de segundos entre o susto que levou e o que faria com aquele cidadão mal-educado que estava à sua frente, pôde ver os restos de Zé Aparecido escafedendo-se pela escadaria, rumo à rua, e gente por todas as mesas segurando a gargalhada.

Olhando firme para aquele cidadão, que – ingenuamente – o havia afrontado vociferou de volta:

– O SENHOR VÁ FAZER SUA RECLAMAÇÃO PARA O RAIO QUE O PARTA!!! E PONHA-SE DAQUI PARA FORA JÁ, SE NÃO QUISER QUE EU O TIRE AOS TAPAS! E QUANDO QUISER GRITAR, VÁ GRITAR COM A SENHORA SUA MÃE, PORQUE AQUI NINGUÉM É SURDO!!!

O homem, que era moreno, ficou lívido. Suava frio, não sabia onde enfiar a cara e o corpo de estatura mediana. Se pudesse sumir…

Quando tentou explicar que havia recebido a orientação daquele simpático jornalista que o recepcionara, olhou para trás e viu apenas uma mesa arrumadinha e sem ninguém mais por lá, como se tudo aquilo tivesse sido fruto da sua imaginação.

É claro que o mal-entendido acabou desfeito. Mas o Zé Aparecido, que já havia mesmo fechado a sua página, só apareceu no jornal no dia seguinte – prazo suficiente, portanto, para os ânimos se acalmarem e a anedota ganhar relevância sobre a destemperança do chefe.

Consta que o tal chefe teria sido Cláudio Abramo, que está na galeria dos maiores profissionais do Jornalismo em nosso País e cujo indiscutível talento tinha como contrapartida um avassalador mau-humor contra as chamadas “impertinências e incompetências profissionais”.

4Mundo em Piracicaba e tirinha nova

Hoje tem tirinha nova no TopBlog! Confiram!

Ao voltar de férias, estou podendo conferir algumas coisas que acabaram saindo justo quando eu não estava aqui.

Uma delas foi uma exposição do coletivo 4Mundo no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, um dos mais importantes e tradicionais do Brasil, e que acabou rendendo um catálogo próprio cuja capa pode ser conferida abaixo.

A exposição apresentou o trabalho de 41 artistas cuja experiência em quadrinhos fora do grande circuito comercial já garantiu dois grandes prêmios da área: HQMIX 2008 – Contribuição do Ano ao Quadrinho Nacional e Ângelo Agostini 2009 – Prêmio Jayme Cortes.

Tendo como curadores Edu Mendes e Fábio San Juan, “Quarto Mundo – Página por Página” conta com obras de A. Moraes, Alex Mir, Alex Rodrigues, André Caliman, André Diniz, Antonio Eder, Bira Dantas, Cadu Simões, Caio Majado, Chicolam, Cristiane Drews, Daniel Esteves, Edu Mendes, Fabiana Gummo, Fernanda Chiella, Frank Delmiro, Gil Tókio, Hugo Nanni, Jeff Batista, Jozz, Laudo Ferreira Jr., Leonardo Melo, Leonardo Santana, Marcos Venceslau, Mario Cau, Marlon Tenório, Mauricio Fig, Omar Viñole, Pablo Mayer, Paulo Kielwagen, Renato Lima, Rick Milk, Rodrigo Montero, Sergio Chaves, Viviane Cris, Wagner de Sousa, Wagner de Passos, Wanderson de Sousa, Wellington Marçal, Wellington Srbek e Will.

Parabéns, pessoal! O catálogo ficou show de bola!

De volta à ativa

Acabaram-se minhas férias e nada melhor que voltar pra ralação do que uma charge pro Jornalistas & Cia.

A charge dessa semana é sobre um caso relatado pelo Eduardo Ribeiro, editor do Jornalistas & Cia.

Lá nos idos de 1976, a Abril reuniu um elenco de peso para tocar o projeto TV Guia. Entre os integrantes da equipe estava Hélio Moreira da Silva, secretário da redação.

Helião, como era chamado – pois era grande como um armário –,  tinha um tremendo astral e era um emérito gozador. Com ele não havia tempo quente. Podia o mundo estar desabando na redação que o sorriso dificilmente desaparecia de seus lábios. Quebrava o azedume dos fechamentos com brincadeiras irreverentes e não tinha preferência: azucrinava com todos e nem os chefes perdoava. Mas o restante da redação também teve a sua vez…

Em uma sexta-feira de fechamento, ele saiu normalmente para a reunião de praxe que antecedia as últimas providências da edição. Quarenta minutos depois, beliscando um, assoviando no ouvido do outro, puxando o papel da máquina de um terceiro, ele se dirigiu à sua mesa, que ficava bem no centro da redação, instalada num grande salão retangular, no então prédio que a Abril alugava na rua Emílio Goeldi, na Lapa de Baixo. Sentou-se, satisfeito, por estar com tudo acertado e feliz por ter azucrinado a vida de repórteres e editores, como sempre fazia.

Naquele tempo, não era só computador que não existia. Também não havia celular. Mas tinha aparelho móvel, um antecessor do pager, chamado Bip, que quebrava bem o galho daqueles que precisavam se comunicar em trânsito. Podemos até dizer que o Bip foi um precursor dos celulares, visto que cumpria praticamente a mesma função e tinha na mobilidade sua força principal, embora de alcance muito limitado.

Todos os repórteres de TV Guia tinham Bip, o que considerávamos um privilégio e motivo de certo garbo, pela importância que então se dava àqueles aparelhos usados presos aos cintos até com uma alguma ostentação.

Para acioná-los, bastava ligar para a central de atendimento, dar o código e ditar o recado (favor ligar para fulano de tal, na empresa tal etc.). No máximo em dois minutos o tal Bip começava a apitar, em geral de forma estridente, porque o som (um onomatopaico bip-bip-bip, daí nome do aparelho) precisava ser alto para que o usuário o escutasse, mesmo num local barulhento. Era muito utilizado por prestadores de serviço, que tinham no rápido atendimento um diferencial.

Uns dois minutos depois que chegou à sua mesa, Hélio ouviu um bip muito próximo e estranhou, porque ele próprio não tinha aparelho. Passados uns cinco segundos, mais um segundo bip se somou ao primeiro, vindo de tão perto quanto. Mais cinco segundos, e um terceiro se pôs a berrar: bip-bip-bip, chamando a atenção de toda a redação, num som cada vez mais tonitruante.

Hélio olhava para todos os lados, sem saber e sem acreditar no que estava acontecendo. O sorriso desapareceu de seus lábios, sobretudo quando um quarto Bip pôs-se garbosamente a soar seu alarme.

Os repórteres, um a um se escafediam pelos corredores, rindo às pencas, vendo os Bips dispararem com precisão, após os recados deixados na central de atendimento para seus próprios aparelhos, numa ação em cadeia e integralmente cronometrada.

Quase 40 segundos e mais um quinto, um sexto e um sétimo Bips se somaram ao coro, fazendo estremecer aquela mesa e a ir pelos ares o humor daquele cidadão de quase 100 kg.

O som, vindo praticamente do mesmo lugar, penetrava nos tímpanos e no cérebro de Hélião, que, indignado, levantou-se e se atirou ao chão, no meio da redação, com as mãos no ouvido,  gritando: “Parem com isso, seus canalhas!! Parem com isso!!”. Gritava e esperneava, olhando incrédulo para sua mesa, como se ela tivesse sido atingida por uma bomba H. Foi quando percebeu que aqueles vários bips vinham dos aparelhos que os repórteres, na sua ausência, cuidadosamente haviam fixado sob sua mesa com fita crepe, aguardando a sua chegada para chamar a central de atendimento.

Ele sobreviveu e o fechamento também. O mesmo não se pode dizer da revista, que veio a falecer em dezembro daquele ano, vítima de tiragem raquítica e inanição crônica de audiência.

HQ Mix e Nanquim Descartável

Neste sábado, dia 21 de agosto, a partir das 20h no Sesc Pompéia, acontece a entrega do Troféu HQ Mix, a mais importante premiação de quadrinhos do Brasil.

A lista completa dos premiados pode ser conferida neste link.

A revista Nanquim Descartável, escrita e editada pelo brother Daniel Esteves ganhou na categoria de melhor publicação independente de autor e a próxima edição da revista que tem um capítulo desenhado por mim será lançada na noite da premiação.

Segue abaixo o release da nova edição da Nanquim Descartável:

NANQUIM DESCARTÁVEL # 03
As calóricas aventuras de Ju e Sandra

Essa edição se passa num só dia, durante as REFEIÇÕES das personagens, café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da madrugada. Em meio a comidas e conversas teremos Sandra tentando convencer Ju a virar vegetariana, o retorno de Marina, uma antiga amiga de Ju e a aparição da irmã mais nova dela, Sandra com ciúmes de Marina, Tuba perdido no meio de tantas mulheres, Ju vendo seu cachorro na comida e falando a respeito de sua dieta favorita, lamentos amorosos e uma série de pequenas sequências na revista onde aparentemente nada acontece, mas um bocado de coisa é dita. Além dos quadrinhos, essa edição traz dois pequenos contos ilustrados, que fazem parte da história, mesclando a linguagem das HQs com a literatura. Também tem um aumento de páginas, de trinta e seis da edição anterior para cinquenta e duas.

A história pode ser lida mesmo por quem nunca viu as outras edições, pois ela se completa nesse mesmo número. De qualquer forma, quem quiser conhecer a série, pode ler a primeira edição gratuitamente no site do Quarto Mundo.
Em breve o segundo número será também colocado online.

A revista faz parte do coletivo de Quadrinistas independentes Quarto Mundo e o segundo número acabou de receber o prêmio HQMIX 2009, como melhor publicação independente de autor.
Roteiro e edição: Daniel Esteves
Arte: Wanderson de Souza, Mário Cau, Júlio Brilha, Laudo Ferreira, Mário César, Wagner de Souza, Carlos Eduardo, Samuel Bono e Al Stefano.
Formato: 16 x 25 cm, 52 páginas, capa colorida, miolo P&B.
Preço: R$6,00

Texto vs. Arte

Antes de mais nada, tem tirinha nova no TopBlog. Confiram!

E, agora, a charge da semana para o Jornalistas & Cia.

O tema dessa vez aborda um atrito recorrente em redações de revistas e jornais entre redatores e diretores de arte: até onde o texto e as chamadas devem ser encurtados em prol da diagramação?