A namorada

Charge da semana para o Jornalistas & Cia.

No início da década de 1960, Boris Casoy, então âncora da Rádio Eldorado, usava o tempo livre para passar trotes pelo telefone nos coleguinhas mais novos.

A rádio ficava em cima do prédio do Hotel Jaraguá, na rua Major Quedinho, vizinha da então sede do Estadão. Uma das vítimas da incrível capacidade do Boris de imitar vozes foi o Antonio Oliveira Machado, o Machadinho, repórter do Estadão, que cobria férias de um redator na rádio.

Fazendo voz de mulher, Boris ligava para o Machadinho e começava uma conversa longa sobre como era trabalhar na rádio e no jornal e, aos poucos, o papo passou para a cantada, inclusive com convite para que se encontrassem.

O trote ficaria nisso, não fosse o Machadinho se furtar ao encontro, pois para se dar importância disse que naquele dia não podia, pois estava aborrecido com um diretor do jornal e precisava resolver a situação: “Imagine que o Ruy Mesquita quer, porque quer, que eu vá como correspondente de guerra para o Vietnã, mas eu me recuso terminantemente e vou dizer isso para ele”.

As lorotas do então foquinha eram tantas que os telefonemas passaram a ser transmitidos por um alto-falante na redação do Estadão, e daí surgiu a idéia de reunir o Machadinho com a sua ‘namorada’.

Vestido com o maior cuidado, Gumex no cabelo, gravata, que na época se usava, o repórter postou-se na frente da Biblioteca Mário de Andrade, à espera da garota do telefone, enquanto a redação inteira se acotovelava no terraço do Salão Nobre do jornal, bem próximo para assistir ao encontro.

Ansioso, Machadinho viu parar um carro na frente da calçada em que estava, a porta se abriu e o Boris, um lencinho estampado amarrado na cabeça, saiu do carro e usou a voz de falsete para dizer, já gargalhando: ‘Machadinho, eu sou a sua namorada’.

Anos depois, já assessor de imprensa da Bolsa de Valores de São Paulo, o Machado confessava que o percurso mais demorado e humilhante de sua vida foi caminhar os 100 metros da frente da Biblioteca para o prédio do Estadão, com pelo menos 50 jornalistas gargalhando no terraço – inclusive o diretor Ruy Mesquita.

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