Esses selvagens…

Charge para o Jornalistas & Cia

A história desta vez é novamente uma colaboração de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto.

Na década de 1970, Bebeto foi à Europa com o editor de Educação do Estadão Eduardo Brito da Cunha e sua futura esposa, cujo pai, controlador, lhes deu muito trabalho, pois só autorizou a viagem da menina quando mentiram, disseram que iam num grande grupo turístico, inclusive casais idosos, e que não havia risco de qualquer esbórnia, como temia o genitor da garota.

De medo do pai, assim que chegaram a Londres, Paris, Roma ou Lisboa, a primeira providência era procurar um grupo de turistas no meio do qual a garota e o Brito se infiltravam de imediato para que eu os fotografasse. O velho nunca desconfiou de que viajaram em petit comité e, ingênuo, não estranhou que de vez em quando o grupo turístico fosse integrado apenas por japoneses, mais o Brito e a namorada, ou por suecos loiríssimos e até, se bem me lembro, moçambicanos retintos.

No meio da viagem tomaram na Itália um trem vindo da Alemanha, saído diretamente de um dos contos de Agatha Christie. Hércule Poirot não estava nele, mas havia pequenas cabines com poltronas vis-à-vis e numa delas tiveram direito à companhia de um inglês típico, guarda-chuva e chapéu coco, que se confessou impressionadíssimo por encontrar brasileiros que falavam sua língua, não estavam armados de arco e flecha nem tinham nenhuma cicatriz de lutas com antas ou sucuris.

Depois de explicar ao inglês, desconfiado, que não havia cobras nem onças nas ruas de São Paulo, que contávamos com amplo parque industrial, andávamos de automóvel e que – supremo indício de civilização – contávamos até com congestionamentos, o inglês começou a se achar preconceituoso e que fizera imagem errada e estereotipada do Brasil, como jungle apenas.

A essa altura, Brito resolveu ir ao banheiro, onde o papel higiênico tinha impressa em cada folha o aviso bem alemão de que aquilo era propriedade do governo.

Entusiasmado, voltou à cabine sacudindo uma tira de meio metro do papel higiênico na mão e rindo, exibiu o que estava escrito: “Bundestag….” sei lá o quê. Ele, que jamais perdeu uma piada, dobrava-se de rir e explicava que “Bundestag propriety ou sei lá o quê” queria dizer “Papel de bunda alemão”.

Todo mundo riu muito – but the English gentleman. O papel passou de mão em mão para ser examinado, enquanto o inglês, espantadíssimo, aguardava uma explicação. Bebeto até tentou, mas não dava para traduzir a piada, principalmente porque à época ele era quase monoglota e o inglês, muitíssimo mal impressionado por saber que os brasileiros achavam incrível alguém usar papel no banheiro, pediu desculpas e se escafedeu.

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