Charge para o Jornalistas & Cia
Antes que algum católico fervoroso queira me crucificar com essa releitura nada ortodoxa da Última Ceia, leiam a história dessa semana por Valdir Sanches.
Era Sexta-Feira da Paixão, feriado. Valdir Sanches perfilava entre os repórteres de plantão na redação do Jornal da Tarde. O Zé Maria de Aquino, no comando da redação, nessa manhã, lhe vem com uma pauta.
– Sanches, como estará o movimento nas churrascarias hoje?
Sem entender a proposta, Valdir responde.
– Churrascarias no feriado…
E lhe encarou com um olhar de “e então?…”.
Ah! Churrascaria num dia em que não se come carne… Sim, boa pauta! Solicitada a companhia de um fotógrafo embarcaram na viatura da reportagem.
Logo na Avenida Sumaré havia uma churrascaria, não muito grande, mas bem ajeitada. Entraram. Umas tantas mesas ocupadas. Escolheram pelo jeito o entrevistável, que parecia comandar a mesa com mais dois homens, e o abordaram.
– Somos repórteres do Jornal da Tarde…
O homem parou de comer sua picanha. Explicaram a matéria, ele entendeu o espírito da coisa. Tinha uma pequena empresa no bairro, e estavam trabalhando, mesmo com o feriado. Os outros dois eram seus empregados.
Vai aquela conversa boba, comer carne hoje, Sexta-Feira Santa? Que que tem, é coisa antiga, poucos ainda ligam, etc. etc.. Fotos do homem com seu prato de carne. Para não inibir, nessas situações, perguntam o nome no fim da entrevista.
– Como é o seu nome?
– Jesus Barbalho.
Barbalho? Puxa, o governador Jader Barbalho estava na crista do noticiário, acusado de irregularidades. Conversaram um pouco sobre isso, Valdir fez mais duas ou três perguntas, e sairam.
Na rua, o fotógrafo pede o nome do entrevistado, para identificar a foto. Valdir lê suas anotações e cai duro. Jesus Barbalho. O homem se chama Jesus! Se impressionei tanto com o Barbalho que não gravou o Jesus!
Avaliou se era o caso de voltar à mesa e interromper novamente o almoço do bom Jesus. Mas não, o que eu tinha estava bom.
Foram a mais duas churrascarias, embora a matéria já estivesse pronta. Numa delas, pergunta o nome do entrevistado.
– Ricardo Teixeira.
E não tinha nenhuma ligação com futebol.
Valdir voltou à redação contando logo que havia entrevistado Jesus comendo carne. Redigiu a matéria. Foi para um copy altamente criativo. Deu o título, para o alto de página: Jesus vai de picanha na Sexta Santa.
A redação se empolga. Matéria bem-humorada, diferenciada, acima do noticiário de estradas e cemitérios. Na época, o editor de Geral era um rapaz com jeito de Superboy, puro dinamismo. Mas fora de tom para um jornal como o JT. Leu o título, ficou inseguro – e o vetou.
Em seu lugar entrou alguma coisa opaca, que matou a página e o espírito da matéria. O texto, com algum molho, foi mantido. Mas não era a mesma coisa.