Antes de mais nada, tem tirinha nova no TopBlog. Não deixem de conferir: http://www.topblog.com.br/2010/blogs/quadrinhos/
Neste último domingo saiu uma matéria no Correio Braziliense sobre a nova geração dos quadrinhos nacionais. Além de mim foram entrevistados o pessoal do 4Mundo, o Allan Sieber, o João Montanaro, o Lima e meu xará Mario Cau. A matéria também pode ser conferida no site do jornal: http://www2.correiobraziliense.com.br/cbonline/revistadocorreio/sup_rvd_5.htm
E, por fim, segue abaixo a charge dessa semana para o Jornalistas & Cia.
Os jornalistas veteranos da Folha e do Estadão se reuniam todas as noites no bar de um hotel na avenida Duque de Caxias, no centro de São Paulo. A razão de ser do encontro era beber, jogar crepe (dados), exaltar mulheres e amantes e falar mal de tudo e todos, mas civilizadamente, sempre que possível.
Contada assim parece reunião de boêmios e bebuns, jogando tempo e conversa fiada fora. Nem sempre. De vez em quando havia também as “sessões culturais”, nas quais os novatos podiam aprender com os mais velhos desde os meandros das conjugações latinas até como não repetir o que perpetravam nas edições dos jornais do dia.
Os jovens precisavam de razoável dose de humor e fairplay para ouvir as críticas, o que a maioria tinha.Uma sexta-feira, a casa cheia de novos e velhos jornalistas, tornou-se memorável porque os dois lados estavam particularmente inspirados, tanto os veteranos quanto repórteres e redatores dos jornais do dia, que “capricharam” nas bobagens. É até hoje lembrada como noitada de humor, jornalismo e português, e continua atual, já que muitos textos na imprensa não melhoraram desde então.
A primeira vítima dos veteranos foi um jovem repórter policial, que num texto publicado naquele dia escreveu: “Dois meliantes, que ocupavam um veículo de cor azul, tentaram se evadir dos policiais, efetuando vários disparos, mas foram interceptados e acabaram lançando o veículo contra um coletivo que estava estacionado no ponto”.Após a bronca no repórter, geralmente suave, como incentivo à carreira, veio a “tradução”: “Dois homens num carro azul tentaram fugir da polícia atirando, mas não conseguiram e na fuga se chocaram com um ônibus parado no ponto”.
Depois foi a vez de um repórter esportivo, que num texto sobre o campeonato italiano havia escrito “a” Roma, “a” Juventus, entre outros, o que um dos veteranos definiu como “pedantismo e coisa de caipira colonizado”. E acrescentou: “Estamos no Brasil, garoto, não na Itália. Pare com essas tolices! E por que não “a” Milan, pode me explicar? E por que não ‘a’ Palmeiras, já que é Sociedade Esportiva Palmeiras?”. A lição, pelo jeito, não surtiu efeito duradouro, porque ainda hoje a crônica esportiva escreve e fala a mesma coisa.
Grande ojeriza dos veteranos era sobre o que um deles chamava de “a praga do momento”, na época ainda em gestação, mas que com o tempo se espalharia como erva daninha e continua pipocando em textos de todos os tipos: o nefando “voltado”. O alvo foi uma repórter de economia, que escreveu algo mais ou menos assim: “A empresa, que até então estava em situação difícil, recuperou-se quando decidiu fabricar brinquedo voltado para o público infantil”.“Moça”, perguntou o veterano, “se você eliminar essa besteira do ‘voltado’, o que é que fica no seu texto?”. Ela ensaiou a resposta, mas não houve tempo: “Fica melhor: ‘brinquedo para o público infantil’. Pra que o ‘voltado’? Pare com essas frescuras, ok?”.
A aula de jornalismo daquela noite parecia se prolongar rumo à madrugada, pois o clima era de interesse e bom humor. Mas então, outro veterano, numa mesa ao fundo, decretou que era hora de acabar, gritando: “E aí, vocês vêm ou não pro crepe?”.