FIQ! 2013

O FIQ! (Festival Internacional de Quadrinhos) em Belo Horizonte foi, mais uma vez, memorável. É impressionante como a cada edição a organização do evento fica melhor. A utilização do espaço da Serraria Souza Pinto ficou melhor planejada, as exposições lindonas e tinha chopp geladinho pra amenizar o calor estufante.

Passei a maior parte do tempo no estande da Balão Editorial promovendo Ciranda da Solidão e Futuros Heróis. É simplesmente demais receber o carinho do público, conhecer novos autores e fazer novas amizades em eventos assim.

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Equipe Balão Editorial

Tem muita história pra contar, desde quase ficar sem hotel e comer o melhor toucinho de barriga e a melhor moela de galinha da galáxia até conhecer o homem, o mito e a lenda de Gerson King Combo (!), ver o Laerte travestido de Capitão América e conferir de perto toda a simpatia do George Perez que ficou emocionado com nossa singela homenagem. Tem várias coberturas mais completas sobre o evento em portais como o UniversoHQ, Ambrosia, ImpulsoHQ. Vale a pena conferir.

Mas vou focar aqui no aspecto mais empolgante do FIQ!: ver como a produção nacional de quadrinhos está cada vez maior e melhor. Seguem alguns trabalhos com os quais me deleitei nas últimas semanas.

Remy

Remy

Uma bela história com tom filosófico sobre vida e morte com arte de encher os olhos. A Julia Bax desponta desde já com uma das favoritas a levar o prêmio de Melhor Desenhista no Troféu HQ Mix ano que vem.

Folheteen – Direto ao ponto

Folheteen

Cheguei a resenhar o primeiro volume deste ótimo trabalho do José Aguiar pro Universo HQ. Na época, foi uma bela surpresa ver algo abordando adolescentes que evitasse os mesmos retratos rasos e imbecilizantes que vemos nas Malhações da vida. Me conquistou de cara e é muito bom ver que as histórias da Malu estão tendo continuidade. Aprecio bastante das tirinhas de humor, mas são nas narrativas mais longas que acho que o trabalho do Aguiar me arrebata mais e este é o melhor volume de Folheteen até o momento. Aqui ele mostra as dificuldades de Malu em lidar com o novo namorado de sua mãe recém-divorciada e os perrengues em arranjar emprego. As páginas iniciais homenageando Little Nemo in Slumberland são de cair o queixo. Imperdível.

São Paulo dos Mortos

São Paulo dos Mortos

 

Acompanho os trabalhos do Daniel Esteves desde quando nos conhecemos na época da Front e até já desenhei algumas páginas para sua série Nanquim Descartável. E aqui ele se superou, são diversos contos que se passam numa São Paulo pós-apocalíptica, uma história mais inspirada que a outra e com uma equipe de desenhistas de primeira. Vale destacar a HQ desenhada pelo mestre Laudo que traz um inusitado ar de Nelson Rodrigues e outra que mistura com muito bom humor o futebol com zumbis. As histórias que abrem e fecham o álbum tem um sabor especial de justiça pra quem se revoltou com a barbaridade que foi o Pinheirinho.

Valente por opção

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O terceiro número dessa série do Vitor Cafaggi, além de ser uma leitura super prazerosa daquelas que te deixam com um sorriso no rosto, pode se tornar um marco na recente história dos quadrinhos brasileiros pelo fato de ser publicado pela gigante multinacional Panini Comics. Das editoras que publicam quadrinhos por aqui, a Panini é a que tem maior alcance de público e a melhor distribuição, são eles quem tem mais espaço nas bancas e livrarias e que publicam Turma da Mônica, Marvel, DC e diversos mangás. E desde Combo Rangers do Fabio Yabu, há cerca de uma década atrás, que a Panini não se aventura a lançar material inédito de um autor nacional independente. Nosso mercado ainda não conseguiu produzir novos autores com público em larga escala como o Mauricio de Souza ou o Ziraldo nem criar novas franquias como a Turma da Mônica. Uma editora do porte da Panini investir em material nacional é um passo para que algo assim possa vir a acontecer e o responsável por essa nova abertura é o sucesso das Graphics MSP do Mauricio de Souza editadas pelo Sidney Gusman. Longa vida ao Valente, às Graphic MSP e ao quadrinho nacional.

Quadrinhos A2 #3

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Essa série autobiográfica do simpatisíssimo casal Paulo Crumbim e Cristina Eiko, que, assim como o Vítor Cafaggi, participam de Futuros Heróis é sempre diversão garantida. O guia para uma vida desorganizada é impagável e, como já explicita a capa, é melhor não irritar a Eiko…

Cara, eu sou legal

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A Marília financiou seu livro via Catarse da mesma forma que eu. Seus quadrinhos são um prato cheio pra quem gosta de trabalhos como o da Maitena que desbrava com bom humor a mente complicada das mulheres e mostra o cotidiano de uma garota sem cair em estereótipos machistas nem ser ‘mulherzinha’ demais. E, ah, eu conheci a Marília lá no FIQ!, ela é legal e dança de um jeito engraçado.

As coisas que Cecília fez

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Trabalho de estreia do Liber Paz, gente boníssima que tive o prazer de conhecer lá no FIQ!. A história é sensível e muito bem escrita. Não vou contar muito o que a Cecília fez, mas adianto que é bafão e que não estou sozinho na produção de quadrinhos que abordem o universo LGBT aqui no Brasil. Recomendo bastante.

Imaginários em Quadrinhos # 2

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Coletânea muito bem organizada pelo puto do Raphael Fernandes (Ditadura no Ar, MAD), a Imaginários está virando uma bela referência para o que tem pintado de novo no quadrinho brasileiro. Nesta edição eu fiquei babando com as artes espetaculares do João Azeitona, que ilustra uma baita história de vingança escrita pelo Felipe Cazelli, e do Diego de Souza, que desenha uma aventura de ficção científica escrita pelo Gian Danton. Coisa fina. Ainda tem os sempre competentes Laudo Ferreira e Flávio Luiz desenhando histórias do Raphael Fernandes e Lica de Souza, respectivamente. Airton Marinho e Denis Melo fecham o livro com um macabro thriller policial. O único ponto fraco da edição fica por conta da HQ A Rocha de Bruno Bispo e Victor Freudnt, apesar de uma arte bem feita e detalhista, a trama perde força por conta dos excessos, muita história e muitos personagens em um espaço limitado acabou prejudicando o desenvolvimento e a fluidez da narrativa. A capa do Mateus Santolouco ficou de lascar o coco.

Mosquitto

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Um homem em pé-de-guerra com os mosquitos que habitam seu apartamento. A trama é simples e a HQ não tem diálogos. Um deleite de narrativa visual no belo traço do George Schall.

Vida de escritor

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Meu parceiro de crime em Pequenos Heróis e Futuros Heróis, Estevão Ribeiro, lançou mais um volume de sua divertidíssima tirinha Os Passarinhos. Aliás, já saíram as primeiras resenhas de Futuros Heróis no Filmes em quadrinhos e o MDM.

Muzinga

André Diniz, um dos mais prolíficos autores brasileiros, e sua esposa Marcela Mannheimer aproveitaram o FIQ! para promover seu mais novo projeto: Muzinga. Trata-se de um quadrinho digital atualizado duas vezes por semana e gratuito. Confere lá que o material é de primeira: http://www.muzinga.net

Beco do Rosário

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Esse foi só uma prévia de 3 páginas no FIQ!, mas já deu pra ver que a talentosíssima Ana Luiza Koehler está preparando uma baita HQ. A história se passa na década de 1920 em Porto Alegre e gira em torno de Vitória, uma filha de escravos que deseja ser jornalista. Promete ser um belo romance de época com forte conteúdo feminista e sociopolítico e a arte da Ana, como pode ser conferido pela capa, é um espetáculo à parte.

Além da Ana, outros autores também levaram prévias de seus futuros e promissores projetos como o Barão Macaco de Hector Lima, Felipe Sobreiro e Milton Sobreiro e O Clube dos monstros do bairro distante de Pablo Casado, Matheus Alves e Talles Rodrigues.

E teve muitos outros além desses. Pelas contas do Paulo Ramos, foram mais de 130 (!!!) trabalhos novos só de autores independentes marcando presença lá. Soma a isso todos os lançamentos nacionais por editoras de pequeno, médio e grande porte. Não consegui adquirir tudo e isso me deixa ainda mais empolgado em fazer parte deste atual momento da nona arte brasileira.

E ano que vem terá outra edição da Gibicon em Curitiba! Mal posso esperar…