Fazendo uma página de HQ: passo-a-passo

Volta e meia me perguntam sobre o meu método de trabalho e minhas técnicas (ou falta delas :P), então resolvi fazer um post sobre como eu faço minhas páginas de quadrinhos da EntreQuadros.

O ponto de partida, obviamente, é a elaboração do roteiro.

No caso da EntreQuadros, por se tratar de um trabalho pessoal, esse processo varia bastante. Às vezes a história vem toda numa tacada só como foi o caso da HQ especial de Natal que publiquei gratuitamente no site da Balão Editorial.

Outras vezes, é um processo lento em que as ideias vão se maturando aos poucos. A próxima edição da EntreQuadros foi um desses processos lentos. Tive a ideia da história há mais de seis anos, mas ainda não era o momento de realizá-la. Creio que precisava ter vivido algumas experiências antes de escrever sobre personagens passando por algo semelhante. Um outro fator importante no desenvolvimento deste roteiro é que a cidade de São Paulo, onde resido há mais de cinco anos, acabou se tornando praticamente uma personagem da história.

Depois de ter a história, eu a decupo em forma de roteiro de quadrinhos, definindo a divisão de capítulos, páginas, quadros etc. As primeiras ideias de enquadramento, ângulos e sequências narrativas me vem à cabeça nesse momento. Este roteiro decupado fica mais ou menos assim:

Por ser um projeto meu mesmo, não detalho muito os elementos em cena, pois eles já estão configurados na minha cabeça. O design dos personagens e cenários também já foram definidos quando eu desenvolvia o enredo.

Tendo o roteiro pronto, eu rascunho uma pequena miniatura de cada página já pensando na diagramação, composição das cenas, espaço para os balões e recordatórios. Muitas vezes eu mudo, nesta etapa, a divisão dos quadros que havia imaginado anteriormente por visualizar como eles realmente vão funcionar desenhados. É aqui onde eu defino de vez o ritmo da leitura e quais cenas devem ser mais enfatizadas.

Só depois de ter definido todos os pormenores da página é que vou pra prancheta de fato. Eu desenho em formato maior do que o publicado, tamanho A3, em folha de papel sulfite mesmo. É possível encontrar papel sulfite com gramaturas maiores (120 ou 180) em papelarias. Não gosto muito do papel canson e semelhantes porque o pincel que utlizo não desliza muito bem sobre a textura àspera na hora de aplicar a arte-final. A página desenhada só no lápis fica mais ou menos assim:

Depois disso, eu limpo as linhas de construção e rascunho usando uma borracha limpa-tipo que não danifica o papel. É um tipo de borracha que parece uma massinha de modelar e pode ser encontrada facilmente em papelarias e lojas de material de desenho. Para arte-finalizar eu utizo tinta nanquim, pincel (desses de caligrafia japonesa, pois permitem uma variação rica na espessura do traço e posso criar texturas interessantes com eles semi-secos) e canetas descartáveis para fazer os traços mais uniformes.

Acabando a arte-final eu ainda aplico os tons de cinza utilizando aguada, uma técnica em que se dilui o nanquim em água para obter os cinzas. Prefiro fazer assim a aplicar os cinzas no computador porque as texturas e ‘falhas’ da aguada me agradam mais, deixam a página mais viva, mais interessante.

Feito isso, eu escaneio a página e trato a imagem no computador fazendo uma separação do traço e dos tons de cinza e tranformo os cinzas em uma cor especial para poder imprimir em duas cores e não em policromia. Nesta próxima edição da EntreQuadros usarei um verde para dar o clima certo pra história. Depois sobreponho uma camada sobre a outra e aplico o efeito de ‘Multiply’ sobre elas. O efeito final fica assim:

Arte pronta. Falta o letreramento. Eu aplico as letras e os balões no InDesign, um programa de editoraçãode livros, revistas etc. Para os diálogos, eu utilizo a fonte La Cartooniere que eu mesmo re-editei para incluir os acentos da língua portuguesa. Os balões e recordatórios eu desenho um a um no próprio programa.

E, então, tcharans!!!!

Depois de umas 6 a 12 horas de trabalho, dependendo do nível de complexidade, fica pronta uma página que vocês lerão em questão de segundos.

Atualmente, já tenho cerca de metade da próxima edição da EntreQuadros pronta e devo lançá-la no segundo semestre deste ano.

3 respostas para “Fazendo uma página de HQ: passo-a-passo”

  1. Gostei muito do artigo de como fazer uma hq, estava explicando passo a passo, agora me surguiu uma duvida, na hora de fazer a hq, pode se fazer a imagem da 1 cena vamos supor, em uma pequena parte do papel, ou utiliza se a folha todo para fazer cada cena?

  2. Olá Sara,
    Eu costumo fazer a página no papel já com a diagramação final, com todos os quadros já dispostos em sua forma. A maioria dos artistas costuma fazer assim, mas não é via de regra. Há alguns casos de autores que desenharam os quadros em folhas separadas e só depois montaram as cenas na página.
    Abraços

  3. gostei muito do artigo e começarei a fazer meus proprios hqs porque eu sempre começava ja desenhando direto na folha de sulfite e nem passa de 4 folhas direito valeu pela dica

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