Cultura LGBT em 2013 #ficaadica

No final do ano passado eu publiquei Ciranda da Solidão, o meu primeiro trabalho abordando o universo LGBT. Foi um passo necessário para mim pois vejo poucas representações bem construídas não apenas nos quadrinhos, mas em cinema, literatura televisão, teatro e etc.

Recentemente, o pessoal do Lado Bi fez um levantamento bem interessante sobre o quão raro tem sido aparecer bons personagens gays no cinema. Os papéis costumam se resumir ao gay amigo conselheiro da protagonista ou a um papel trágico que morre no final ou ao gay cuja única função na trama é ser motivo de piada ou uma mistura disso tudo. Vale a pena ler a matéria deles neste link: http://www.ladobi.com/2014/01/cinema-bechdel-test-lgbt/

Resolvi, então, escrever este post para indicar a quem se interessar outras obras do ano passado que também abordam a homossexualidade e transexualidade de forma mais natural e fornecem um espectro mais amplo da diversidade sexual e de gênero.

Malu – Memórias de uma trans

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O autor Cordeiro de Sá reuniu relatos de diversas mulheres transexuais e construiu uma trabalho bastante honesto e pungente. Ele consegue mostrar como o grupo dos transexuais são os que mais sofrem preconceito por serem o que mais estão fora da curva da ‘normalidade’ (se é que isso existe). O trabalho foi financiado por lei de incentivo e tem distribuição gratuita.

A revista pode ser lida gratuitamente via Issuu: http://issuu.com/cordeirodesa/docs/rphq_malu-mem__rias_de_uma_trans_co/1?e=3146619/6123072

Azul é a cor mais quente

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Os prêmios que a adaptação para o cinema recebeu no festival de Cannes deu bastante visibilidade a esta dolorosamente bela e conturbada história de amor entre as jovens Clémentine e Emma. Eu preferi o quadrinho ao filme, que enrola muito na parte final na minha opinião, mas muito vale a pena conferir ambos.

Você é minha mãe?

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Alison Bechdel é lésbica assumida e já é conhecida do pública por conta do sucesso de seu trabalho anterior, Fun Home, no qual ela destrincha a relação com seu pai que era homossexual enrustido e dono de funerária. Neste novo trabalho, ela muda o foco para sua mãe, conta como ela reagiu à publicação de Fun Home e mergulha fundo na psicanálise para tratar da relação com sua mãe. É uma obra corajosa, íntima e riquíssima, sem falar que conta com uma pesquisa digna de mestrado sobre psicanálise. A Alison é definitivamente uma de minhas autoras de quadrinho preferidas atualmente e ver que um livro destes saiu com uma tiragem inicial de 100 mil exemplares (!) nos EUA me enche de esperança.

As coisas que Cecília fez

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Já falei deste trabalho de estreia do Líber Paz por aqui. O Líber escreve sobre quadrinhos há um bom tempo e só agora resolveu produzir as suas próprias HQs. E já estreou com ar de veterano com uma história muito bem escrita. Cecília é uma mulher comum com casamento feliz e vida estável até que um belo dia reencontra uma antiga conhecida com quem teve um caso e isso desperta uma torrente de lembranças que a abalam profundamente.

Sabor Brasilis

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Sabor Brasilis é um quadrinho sobre uma das maiores paixões nacionais: a novela. Público gay (eu incluso) adora uma boa novela e boa parte dos autores (e atores) de novela são gays, mesmo que não assumam isso publicamente. Esta graphic novel divertidíssima narra os podres e babados dos bastidores de uma novela que virou mania nacional. Além da ótima premissa e de inúmeras referências a novelas reais, é um trabalho que conta  com uma boa gama de personagens homossexuais bem construídos. Leitura mais do que recomendada.

Todos nós adorávamos caubóis

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Já tinha ouvido falar muito bem dos livros da Carol Bensimon e volta e meia leio alguma coluna bacana dela no jornal Zero Hora. Gosto de ir atrás de bons autores contemporâneos e ela ainda tem a mesma idade que eu. Quando li a sinopse de seu novo livro, foi impossível resistir. Todos nós adorávamos caubóis é uma espécia de road movie literário e narra a história de Cora e Júlia, duas amigas de faculdade que se reencontram depois de anos sem se ver. Elas decidem fazer uma viagem de carro pelo extremo sul do Brasil há muito tempo planejada. Durante a viagem as memórias do relacionamento que tiveram antes de se afastarem são reacesas. Um livro sensível, bem escrito e que trata a sexualidade com muita naturalidade. Os direitos já foram vendidos para o cinema e, se for bem adaptado, dará um belo filme.

Maré Vazante e outras histórias

mare

 

Conheci o Alexandre há pouco tempo por conta da exposição Bang! que ajudei a realizar com o pessoal do Telstar Hostels  no ano passado. Fiz um bom amigo e ele escreveu um belo prefácio para Ciranda da Solidão. Esse livro é uma coletânea de diversos contos dele sobre relações homoafetivas revelando sem pudores detalhes íntimos sobre o cotidiano e sobre o sexo. Os meus favoritos são os contos “Não segure a minha mão”, curto e belo, e “Paulo”, onde ele narra a relação de um protagonista Igor com um garoto de programa que dá título à história. Foi publicado por uma editora especializada em literatura LGBT, a Escândalo, mas merecia mais capricho editorial.

Tatuagem

tatuagem

Um dos melhores filmes do ano passado, é brasileiro e aborda universo LGBT. O filme do estreante Hilton Lacerda conta a história de Clécio, líder de uma trupe teatral que realiza shows repletos de deboche e nudez em plena época de ditadura militar. Um dia eles recebem a visita do jovem Fininha, cunhado de Paulete, um dos integrantes da trupe. Fininha é militar e começa um relacionamento amoroso conflitante com Clécio. Os atores estão completamente entregues aos seus papéis e as cenas dos shows da trupe são memoráveis, especialmente o musical ao som de “Polka do cu” do DJ Dolores. Como já disse Xico Sá, é um filme que libertou o corpo no cinema nacional.

Meu amigo Cláudia

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Documentário maravilhoso do Dácio Pinheiro sobre a travesti Claudia Wonder que trabalhou como atriz, cantora e performer nos anos 80. Claudia fez muito barrulho no cenário underground de São Paulo e também fez um importante trabalho como ativista na luta pelos direitos LGBT. Claudia infelizmente faleceu em 2010 em decorrência de uma criptococose (“doença do pombo”). Fiquei com uma vontade imensa de ter sido amigo dela ao fim da sessão.

São Paulo em Hi-Fi

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Este eu confesso que ainda não assisti, pois só tem passado em festivais e sempre conflitou agenda com alguma outra coisa. Mas todo mundo que já viu disse que o documentário do Lufe Steffen sobre a noite paulistana da década de 60, 70 e 80 é emocionante e que foi ovacionado no último Festival Mix Brasil. Assistirei sem falta.