BANG! Palestras e bate-papos

A partir deste sábado começam as palestras e bate-papos de BANG!, evento de quadrinhos que estou ajudando a organizar.

A primeira palestra será com ninguém menos que o renomado Lourenço Mutarelli.

Mutarelli é autor de histórias em quadrinhos, escritor, ator e dramaturgo. Um dos mais prestigiados autores nacionais, começou sua carreira nos anos 80 criando fanzines e publicando na lendária revista Animal. Lançou diversos títulos importantes como a tetralogia do detetive Diomendes, O Cheiro do Ralo, Caixa de Areia e Transubstanciação pela editora Devir. Alcançou um reconhecimento ainda maior ao migrar para o teatro e a literatura, já tendo inclusive obras adaptadas para  cinema e teatro. Atualmente é autor da Cia das Letras por onde já lançou livros como A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, Miguel e os Demônios e Nada me Faltará.

Os bate-papos são gratuitos e as vagas são limitadas. A inscrição deverá ser feita através do e-mail: bang@telstarhostels.com.br

[Atualização]

Os autores Daniel Esteves e Mario Cau tiveram que mudar as datas de suas participações. Desta forma, Daniel Esteves participará do dia 18/05 e Mario Cau estará presente no dia 11/05. A programação fica assim:

27/04 – 16h – Palestra com Lourenço Mutarelli
04/05 – 16h – Palestra com Fernando Gonsales
11/05 – 16h – Bate-papo com Spacca, André Diniz, Mario Cau, Marcelo D’Salete e Dalton Soares
18/05 – 16h – Bate-papo com Mário César, Laudo Ferreira Jr., Omar Viñole, D.W. Ribatski, Daniel Esteves, Paulo Crumbim e Cristina Eiko

[Fim da atualização]

Nanquim, Som & Fúria # 41

Edward Droste – Grizzly Bear

De uns anos para cá, tantos artistas e bandas tem emergido do Brooklyn que tem se comparado o atual momento com a efervescência cultural nova-iorquinha da década 1970 de Velvet Underground, Lou Reed, Television, Blondie, Patti Smith e cia. E o Grizzly Bear é uma dos grandes expoentes dessa cena. A banda começou como um projeto solo do vocalista Edward Droste e apenas no segundo trabalho (Yellow House, 2006) adquiriu a formação de quarteto que mantém até hoje. Seu som é mescla instrumentação tradicional e eletrônica e usa bastante harmonias vocais. Seus discos mais recentes, Veckatimest (2009) e Shields(2012), estão entre os melhores lançamentos dos últimos anos. Receberam elogios rasgados até de Jonny Greenwood, do Radiohead, uma das referências mais fortes para o Grizzly Bear. Eles se apresentam no Cine Jóia em São Paulo no dia 03 de fevereiro.

Nanquim, Som & Fúria #27

Curumin

Curumin

Um dos músicos mais requisitados na música brasileira atualmente, Curumin é cantor, compositor e multiinstrumentista virtuoso (consegue até tocar bateria e cantar ao mesmo sem perder o fôlego). Ele faz parte de uma turma que tem renovado a música brasileira nos últimos anos como Céu, Lucas Santtana, Marcelo Jeneci, Cidadão Instigado, Guizado, Karina Buhr, Wado, Kassin e Tulipa Ruiz só para citar alguns. Em seu trabalho solo, Curumin aglomera elementos tradicionais da MPB e da música negra norte-americana a sonoridades mais contemporâneas. E faz isso de forma muito orgânica, sem forçar a barra pra parecer moderno. Assim como outros artistas de sua geração, ele não se restringe a pré-definições de gêneros musicais. Compreende que a música vai muito além disso e até por isso fica difícil classificar seu tipo de som. Já tem três grandes discos solo no currículo, sendo o mais recente, ‘Arrocha’, lançado este ano. Um dos principais lançamentos nacionais deste ano e que tem uma sonoridade mais urbana e pesada que seus trabalhos anteriores. ‘Arrocha’ pode ser ouvido na íntrega no Soundcloud do cara, confiram:

Essa Coca é Fanta

Charge para o Jornalistas & Cia

História enviada por  Sandro Villar, correspondente do Estadão em Presidente Prudente.

“Tem sujeito que não pode ver um rabo de saia que logo dá um jeito de se aproximar da mulher, sem medir as conseqüências. Um cara assanhado – ou tarado mesmo –, quando se trata de saia, só dispensa padre e escocês. Mas, dependendo do modelo da batina e da saia, padre e escocês também correm risco. Um famoso colunista de jornal tinha fama de Casanova, embora já fosse Casavelha. Sabem como é: a idade chega para todos, exceto para a Vera Fischer. Seu nome e o veículo serão preservados por motivos óbvios. Ele – o colunista em questão – não podia ver mulher, ficava ouriçado e partia para a conquista. Como aquela vez no centro de São Paulo, depois de almoçar com diretores do jornal onde escrevia e onde desfrutava de enorme prestígio. Encurtando conversa: o nosso herói tinha um Ibope alto, quer dizer, era muito lido pelos leitores.

Depois do almoço num restaurante chique da avenida São Luiz, que não sei se ainda existe, Dodô (chamemo-lo assim) se despediu dos diretores e foi dar uma volta pelo centro para fazer a digestão. Logo depois de entrar na avenida Ipiranga, deu de cara com uma baita loira, tipo Kim Novak, para os mais velhos, ou tipo Kim Bassinger, para a moçada contemporânea. Comparações não interessam muito nessa narrativa, mas que a mulher era de fechar o comércio e a indústria lá isso era. Ou mais que isso: era dessas de fazer rei abdicar e pastor abandonar o púlpito. Não só Dodô como também qualquer homem, seja metrossexual ou centimetrossexual (já tem isso?), tentaria conquistar a loira em questão.

Como não era bobo nem nada, ele percebeu que ela, apesar de não ser gandula, tinha dado bola e a maior trela. “Essa está no papo”, deve ter pensado. Dodô se aproximou, puxou conversa e, papo vai papo vem, confirmou que a moça estava mesmo no papo. A mulher não fazia o gênero loira burra. Ao contrário, ela sabia das coisas e estava por dentro dos acontecimentos. Ficou encantada quando Dodô se identificou e, para espanto dele, ela o lia no jornal. Na verdade, o colunista conheceu uma fã de carteirinha, o que facilitou a conquista. Depois de uns dez minutos de prosa, ele fez a proposta nada indecente. Convidou-a para passar umas horas num drive-in que ficava em Interlagos. E aqui cabe um esclarecimento necessário: naquela época ainda não havia motéis em São Paulo, e conquistador que não tinha apartamento levava a mulher ao drive-in.

Com o “sim” dela, concordando com o chamado hoje em dia de sexo consensual, Dodô ligou o carro e lá foi o casal desfrutar de umas horas de prazer. Assim que entrou no drive-in, Dodô esclareceu à moça que não podia ficar a tarde toda com ela, já que precisava voltar ao jornal para escrever o artigo do dia seguinte. Aí veio a atendente e colocou, em cada porta do carro, as bandejas dos drinques e salgadinhos. E depois? Bem, aí a cuíca começou a roncar. Houve as preliminares de praxe, com mil beijos (está bem, deixo por 999) e amassos.

Mas, na hora do pega pra capar, Dodô teve uma surpresa desagradável, assim como os americanos tiveram em Falujah, no Iraque. Ao pôr a mão na Zona do Agrião, ele apalpou um “taco” ou uma “caixa de câmbio”, se vocês preferem tais epítetos para o bilau. Em suma, meus cupinchas: a “mulher” era um travesti. Transtornado, fora de si, ele enxotou o travesti, deu ré e saiu em disparada do drive-in sem pagar a conta. Só que, ao passar pela avenida Interlagos, notou que os transeuntes olhavam para o carro e davam sonoras gargalhadas. Em suma: as pessoas morriam de rir. É que, na confusão, Dodô se esqueceu de retirar as bandejas e, com o equipamento, o automóvel parecia um avião prestes a decolar. Só depois de andar um bom trecho é que ele percebeu a mancada. Parou o carro, jogou as bandejas fora e foi para o jornal. Contou o episódio a um primo e, segundo o parente, Dodô está menos assanhado, mesmo que dele se aproxime uma loiraça, como aquela da avenida Ipiranga. Afinal, as aparências enganam e “ela” pode ser ele, que ainda não fez operação para mudar de sexo.”

O foca e o incêndio

Charge para o Jornalistas & Cia

Inspirado pela colaboração de Plinio Vicente da Silva, a respeito do início de carreira de Zequinha Neto, Cláudio Amaral sentiu-se motivado a escrever sobre uma mancada em seu primeiro ano como repórter do Estadão, em São Paulo.

Corria o ano de 1972 e Cláudio havia chegado à Capital havia poucos meses, vindo de Marília e de Campinas. Em Marília e em Campinas cobria todos os assuntos: de esportes (futebol, basquete e tênis, principalmente) a prefeitura, de militares a câmara de vereadores. E não tinha carga horária definida. Entrava de cabeça às 8h e não havia previsão de hora para encerrar o dia.

Em São Paulo, não. Na capital cada repórter tinha a sua área: Esportes ou Local ou Economia ou Cultura. Mas a carga horária era igual: das 8h ao fim do expediente do jornal. Por conta disso, em sua pauta pessoal os chefes (Ludemberg Góes, Clóvis Rossi, Raul Martins Bastos e Ricardo Kotscho) escreviam três itens, pelo menos: pela manhã, Palmeiras (ou, eventualmente, São Paulo Futebol Clube); à tarde, Juventus (ou Nacional); no fim da tarde, Federação Paulista de Futebol.

Foi assim que Cláudio conheceu Osvaldo Brandão, Leão, Luiz Pereira, Dudu, Ademir da Guia, Cesar “Maluco”, Leivinha… no Palmeiras, cujo repórter titular era o meu amigo Alfacinha, hoje o famoso Reginaldo Leme. No SPFC, conheci e entrevistei Gerson (o “canhotinha de ouro”), o goleador Toninho “Guerreiro”, Edson, Gilberto “Sorriso”, Gino Orlando (na época, administrador do Estádio do Morumbi). Na Federação Paulista de Futebol, o presidente da minha época era nada menos que o “Marechal da Vitória”, Paulo Machado de Carvalho; e o superintende geral, o jornalista Álvaro Paes Leme de Abreu (São Paulo, 31/8/1912/ – 1/9/1984), fundador da Escola de Árbitros da entidade e pai do nosso hoje companheiro Álvaro José Paes Leme (TV Record).

Paes Leme, o pai, era um homem grande, corpulento. Tinha uma voz forte e sabia impor sua autoridade a todos nós. Até porque conhecia como poucos todas as nuances do Jornalismo, da reportagem à edição final. Havia sido, entre outros, um dos profissionais mais respeitados na redação da Última Hora dos anos 1960. Mais: fora comentarista da Jovem Pan e da TV Record.

Quase todos os finais de tardes, início das noites, Paes Leme ia visitar a sala de imprensa da FPF. Passava informações e comentava os fatos futebolísticos do dia. Com autoridade e conhecimentos privilegiados. Exatamente no dia 24 de fevereiro de 1972, ele apareceu para anunciar que não haveria jogo naquele dia no Estádio do Pacaembu. A partida fora cancelada, disse, com sua voz inigualável. Houve um grande incêndio na região central de São Paulo e o gramado do Pacaembu havia sido requisitado para pouso e decolagem de helicópteros que faziam o regaste das vitimas.

Ai Cláudio entrou em ação, em vez de ficar de boca fechada. Novato, inexperiente, disparou: “Só por isso não haverá jogo hoje no Pacaembu, mestre?”

Ele imediatamente lhe levou à lona, a nocaute, com um berro que deve ter sido ouvido ao longo de boa parte da avenida Brigadeiro Luiz Antônio, onde ficava a sede da FPF:

– Mas, porra, velho, você acha isso pouco?!”

Cláudio botou sua viola no saco e saiu com o rabo entre as pernas.

Cláudio saiu do prédio da Federação e foi se juntar às milhares de pessoas que caminhavam pelas calçadas e entre as centenas de veículos (carros e ônibus) que congestionavam as vias públicas.

Foi andando até o Estadão, na rua Major Quedinho, distante cerca de três quilômetros. Escreveu rapidinho suas reportagens e foi auxiliar os repórteres que cobriam o incêndio do Edifício Andraus, na esquina da avenida São João com a rua Pedro Américo.

O chefe da Reportagem Geral, A. P. Quartim de Moraes, o escalou para uma das piores missões que eu poderia enfrentar: acompanhar a chegada dos corpos das vitimas do Andraus e entrevistar os parentes no Instituto Médico Legal, junto do Hospital das Clínicas. Foi terrível. Não estava habituado a conviver tão de perto com a morte, quando mais com muitas mortes, corpos carbonizados e parentes desesperados. Foi uma de suas piores noites como jornalista.

Em tempo: no incêndio do Andraus morreram 16 pessoas e 330 ficaram feridas.

Charge para o Jornalistas & Cia

O Brasil é campeão mundial de redução do número de fumantes. Em uma década, 30% dos viciados abandonaram o cigarro, resultado único no mundo. O inusitado é que a responsável pela campanha vitoriosa, a cardiologista Jaqueline Issa, do Instituto do Coração, atribui o resultado – que se mede em milhares de vidas poupadas em infartos que não ocorreram e câncer do pulmão evitados – ao trabalho de assessoria de imprensa.

Na entrevista que me deu, num frila para a revista da Sociedade de Cardiologia, ela não escondeu os nomes: “O sucesso da campanha contra o cigarro foi conseguido pelo André Aron, que era assessor de imprensa da Secretaria da Saúde, pelo Flávio Tiné, do Hospital das Clínicas, e pela Rita Amorim, até hoje assessora de imprensa do Incor.

A ligação de Jaqueline com o problema do fumo começou com o infarto de sua mãe, aos 38 anos, devido ao cigarro, e culminou com a indicação para assumir a área de Tabagismo do Grupo de Qualidade de Vida do Incor.

“Quando eu soube que a Organização Mundial da Saúde tinha um dia temático voltado para o combate ao fumo, escrevi pedindo apoio”. E, para sua surpresa, junto com os gráficos e tabelas sobre incidência de doenças causadas pelo fumo, recebeu na primeira remessa um vídeo de um repórter da CNN que explicava a importância da imprensa, mostrava como fazer textos ao alcance do público leigo e como aproveitar o poder da mídia.

A dra. Jaqueline diz que levou a sério a indicação, procurou os assessores de imprensa do setor da Saúde, pediu que começassem a fazer releases, passou a acordar de madrugada para entrevistas sobre o cigarro no Bom Dia São Paulo, da TV Globo, por exemplo, a atender a pedidos de rádios para entrevistas presenciais e por telefone, e acabou virando “figurinha fácil” nos jornais e emissoras, conheceu todos os âncoras e criou muitas amizades. Ela diz que foi a exposição na mídia que acabou resultando na legislação restritiva ao fumo, que começou com uma lei do então ministro Adib Jatene, passou pela proibição do cigarro em restaurantes, depois shoppings, até que leis municipais passaram a pipocar em dezenas de municípios, propostas por políticos que, diz ela, “sentiram que o combate ao cigarro lhes dava visibilidade positiva junto à população”.

Hoje, 15 anos depois, a médica incorporou o jargão das redações, fala com desenvoltura em pauta, furo, exclusiva, matéria derrubada e não esquece a dívida para com os jornalistas que, para ela, continuam seu trabalho muitas vezes anônimo, sem nem imaginarem que há muito ex-fumante que só continua vivo por causa das matérias e da campanha que eles divulgaram.

O trio ao qual ela credita o sucesso continua na ativa. André Aron está na Original123, de assessoria de imprensa. Flávio Tiné ainda trabalha com saúde, pois organiza um fórum na Universidade Aberta para o Envelhecimento Saudável e acaba de ter duas vitórias: foi anistiado por perder dois empregos na época da ditadura, na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Recife e na Última Hora, e acaba de ser reintegrado no Hospital das Clínicas, de onde foi demitido em 2004 porque continuava trabalhando, apesar de receber aposentadoria do INSS. “O TST mandou que me pagassem a multa de 40% do FGTS e os anos trabalhados”, diz ele, que, é claro, ainda não recebeu a grana, mas continua esperançoso.

Quanto a Rita Amorim, não há pauteiro que não receba diariamente e, às vezes mais de uma vez por dia, os releases e as pautas vindas pelo conhecido e-mail rita.amorim@incor.usp.br.

Amigos para sempre

Charge para o Jornalistas & Cia

O Hotel Jaraguá, na Rua Major Quedinho, centro de São Paulo, foi ponto de encontro de políticos, intelectuais, jornalistas e artistas nas décadas de 1950 a 1970. Ele ocupava os andares superiores – acima do 7º – do edifício construído para abrigar a antiga sede do Estadão. O Bar do Jaraguá era onde Carlos Lacerda, Roberto de Abreu Sodré e Herbert Levy, entre outros, cuidavam da UDN (União Democrática Nacional). Tudo acontecia ali. Nada mais natural, então, que um jovem repórter do Estadão, que iniciara sua carreira na sucursal paulista do carioca Correio da Manhã, instalada no Edifício Zarvos, do outro lado da Rua da Consolação, reservasse um apartamento do Jaraguá para sua noite de núpcias.

Assim fez. Mas incorreu em uma falha imperdoável: contou as providências aos colegas de Redação.

No dia das bodas, um colega, precocemente calvo – como o noivo – apresentou-se no final da tarde à recepção do Jaraguá: “Meu nome é Soter Souza Silva, tenho reserva para esta noite, sou jornalista do Estadão e colegas da Redação furtaram minha carteira de identidade. Peço-lhes, por favor, que não permitam de forma alguma que me incomodem nesta minha noite de núpcias”.

Quanto Soter chegou, encerrada a recepção de suas bodas, ele e a noiva, ao que consta, tiveram de rumar para o Othon Palace, na Praça do Patriarca. Sua reserva havia sido ocupada pelo colega Álvaro Tarquínio Costa, o calvo do parágrafo anterior.

Continuaram amigos para sempre.

O Porco Verde

Hoje tem tirinha nova no TopBlog. Não deixem de conferir!

O TopBlog está de cara nova e, infelizmente, os links para as tirinhas mais antigas sumiram, mas o pessoal lá já está ajeitando isso.

O link novo para o meu blog lá é: http://www.topblog.com.br/2010/blogs/quadrinhos/

Abaixo segue uma charge para o Jornalistas & Cia

O caso da vez ocorreu no Jornal do Commercio (com essa grafia mesmo!) do Recife e é fato real, que pode ser comprovado facilmente. O episódio é conhecido como O Porco Verde.

Era plena ditadura militar e a repressão era muito forte, principalmente no Recife, considerado um dos focos da subversão. O Jornal do Commercio já não era o mesmo dos tempos do Dr. F. Pessoa de Queiroz, mas ainda conservava os ares de seu antigo charme. Sua rotativa, moderna para a época, permitia a impressão em cores, não as quatro de uma vez, como hoje, mas uma só, recurso válido apenas para o Suplemento Infantil dominical, cuja primeira página era impressa sempre em cor berrante.

O editor de Nacional estava sendo remanejado, por causa do desempenho, digamos, insuficiente. Ele era baixo e gordo, mas não obeso. E sempre tentava se expressar com erudição mas sem conteúdo correspondente. Daí ter o apelido, entre os colegas, de Burro Solene. Sua defenestração da editoria Nacional foi-lhe vendida como uma promoção e ele engoliu a corda, a ponto de alardear, com alguma empáfia, que sua competência tinha sido afinal reconhecida. Por isso, ele assumiria com orgulho a editoria do Suplemento Infantil e promoveria profundas mudanças! Toda a redação conhecia os reais motivos e, obviamente, gargalhava até as lágrimas!

O grupo que fazia o Suplemento Infantil começou a ficar preocupado com a fama do novo chefe. E resolveu pregar-lhe uma peça. A historinha publicada na primeira página do suplemento dominical foi-lhe dedicada secretamente e contava que o porco (não dava para usar a figura do burro, senão ficaria muito evidente) mudou de fazenda e chegou querendo botar banca, prendendo as galinhas no galinheiro, fazendo e desfazendo, um verdadeiro ditador. O desenhista do suplemento tascou o desenho de um porco bem parecido com “alvo”: baixinho, mas não muito, gordinho, mas não muito. O novo editor aprovou a história e o desenho e, na sexta-feira, foi embora, enquanto sua nova equipe morria de tanto rir. Logo o resto da redação soube da história e ninguém aguentava mais esperar a segunda-feira seguinte para ver a cara do Burro Solene.

No sábado, as páginas do suplemento desceram para a gráfica e lá o chefe de impressão escolheu aleatoriamente a cor que mais lhe sobrava: verde. A cor ficou muito clara e ele colocou um pouquinho de tinta preta até alcançar um verde mais consistente, quase um verde-oliva.

No domingo de manhã, toda a redação do Suplemento Infantil foi presa e interrogada nas masmorras da 7ª Região Militar. É que, semanas antes, tinha tomado posse um general linha-dura, baixinho, gordinho e que estava colocando todos os comunistas na prisão. Foi um custo convencer os milicos de que a historinha não se referia ao general e sim ao editor, e que foi mero acaso o porco pintado de verde. Como ninguém tinha antecedentes políticos, todos foram liberados. Mas, o susto foi enorme!

Na segunda-feira, o Burro Solene apareceu na redação com um olhar irônico e superior, do tipo: “Não mexam comigo que eu chamo o Exército!”

Armando Nogueira

Charge para o Jornalistas & Cia.

Homenagem ao Armando Nogueira que faleceu aos 83 anos neste dia 29 de março de 2010 em consequência de um câncer no cérebro.

Armando é um dos maiores nomes do jornalismo no Brasil, implantou o telejornalismo na Rede Globo e criou o Jornal Nacional que faz parte da rotina de tantos brasileiros.

Conhecido pela qualidade de seu texto, também foi um dos melhores cronistas esportivos desse País. Apaixonado por futebol, descrevia Garrincha como um anjo das pernas tortas.