Recentemente fui convidado para fazer ilustrações para o livro “Dançando com o urso” de João Rached. O livro fala da relação dos empresários com sindicatos nas negociações. Foi bem divertido de fazer.
O Yo La Tengo é uma das bandas mais queridas do indie. São liderados por Ira Kaplan, e sua esposa Georgia Hubley. Estão na ativa desde os anos 1980 e seus discos de meados da década de 1990 (Painful, Electr-o-Pura e I Can Hear the Heart Beating as One) são considerados clássicos de seu gênero. E em quase 30 anos de carreira, eles nunca deixaram a peteca cair. Gravam constantemente belíssimos discos e lançaram no começo deste ano mais outra lindeza: Fade. É um dos discos mais curtos da carreira deles, tem cerca de 45 minutos de duração, mas também é um dos discos mais orquestrados e no qual eles falam mais abertamente sobre as dificuldades de um casamento tão duradouro quanto o de Ira e Georgia. Há poucas coisas tão tocantes quanto a honestidade neste mundo.
Sir David Bowie dispensa apresentações. É simplesmente um dos artistas vivos mais importantes, se não for o mais importante. Muito se especulou sobre sua saúde na última década e tampouco houve sinais de que ele lançaria algum material novo. Mas felizmente, ele estava há dois anos preparando um disco novo na surdina e só o anunciou na data de seu 66º aniversário no começo deste ano. E o resultado alcançado em The Next Day mostra que o afastamento dos holofotes fez muitíssimo bem a Bowie. É um ponto alto em uma das carreiras mais repletas de pontos altos da história da música.
Em The Next Day, Bowie deixou suas famosas camaleonices um pouco de lado e se focou mais em acertar a mão em cada uma das faixas do disco e também em revisitar sonoridades de diversos momentos de sua carreira da forma mais coesa possível. Este trabalho também reflete a serenidade que só a idade pode trazer também. Não que ele tenha deixado de ser um artista provocativo, muito pelo contrário. Agora o faz de forma ainda mais sofisticada. Logo na faixa de abertura que dá nome ao disco, por exemplo, ele ironiza sobre os problemas de saúde que o atormentaram e sobre os inúmeros boatos de que ele estaria com um pé-na-cova: “Here I am / Not quite dead / My body left to rot in a hollow tree / Its branches throwing shadows /On the gallows for me / And the next day / And the next /And another day”. Que tenhamos Bowie por muitos e muitos dias a seguir.
Fiquem abaixo com os clipes de The Stars (are out tonight), minha faixa predileta deste ano até agora, e da pungente Where are now?, ambas de seu disco mais recente:
Alison é, ao menos para mim, a mulher mais sexy do rock’n’roll atualmente. Forma ao lado de Jamie Hince, o ótimo duo The Kills, que já tem quatro álbuns de estúdio lançados. Também integrou o The Dead Weather, supergrupo que desconfio que Jack White tenha montado especialmente para Alison ver como ela ficaria ainda mais fodona com uma banda mais encorpada a acompanhando. E funcionou, o Dead Weather gravou dois grandes álbuns, Horehound (2009) e Sea of Cowards (2010). São duas pedradas que deram ainda mais confiança para Alison chutar traseiros com ainda mais força em Blood Pressures (2011), disco mais recente do The Kills. Blood Pressures não só é o melhor trabalho da dupla como também é um dos melhores discos de rock recentes.
Kleber Cavalcante Gomes, o Criolo, é rapper desde 1989, mas só se tornou mais conhecido com o lançamento do disco Nó na Orelha (2011), um dos discos essenciais desse começo de década no Brasil. Neste disco, ele foi muito além do universo musical do rap ao incorporar elementos da MPB, soul music, trip hop, funk, afrobeat e blues. Criolo também é adepto dos novos meios de distribuir e divulgar música. Seu disco pode ser baixado gratuitamente em seu site e recentemente disponibilizou um show completo no Circo Voador no esquema ‘pague o quanto quiser’, da mesma forma que o Radiohead disponibilizou o In Rainbows em 2007.
Simplesmente uma de minhas cantoras prediletas, seu nome verdadeiro é Erica Abi Wright.
Badu estreou em meados da década de 1990 e fez história ao lado de D’Angelo, Maxwell, Lauryn Hill, Jill Scott, Macy Gray entre outros com o que foi chamado na época de neo soul, uma nova vertente do R&B que mesclava black music dos anos 70 ao hip hop, ao jazz, ao funk e até a house music. Badu foi a primeira artista feminina dessa leva, chegou a ser comparada a Billie Holiday e virou referência para muitas outras cantoras como Amy Whinehouse e Céu. Após o grande sucesso de seus dois primeiros discos, Baduizm(1997) e Mama’s Gun ( 2000), lançou o EP Worldwide Underground (2003) no qual mostrou ter um lado mais aventureiro.
Sumiu por um tempo e só voltou cinco anos depois com o incrível 4th World War (2008), primeiro disco de uma trilogia ambiciosa intitulada New Amerykah. Neste disco, Badu aprofundou ainda mais sua fusão de R&B com Hip Hop e adicionou novos elementos de música eletrônica e até do rock experimental do Radiohead, especialmente da fase Kid A. O disco tem ainda letras mais politizadas nas quais Badu versa sobre identidade cultural, violência urbana e pobreza.
Em 2010, lançou a segunda parte de sua trilogia: Return of the Ankh. Outro grande disco, desta vez mais pessoal e menos político que o predecessor. Foi uma volta ao neo-soul do início de sua carreira, mas sem abrir mão de novas experimentações, agora mais sutis. O primeiro single, Window Seat, rendeu a maior polêmica de sua carreira por conta do vídeoclipe em que ela se despe na mesma rua onde o JFK foi assassinado. O vídeo é um protesto contra o pensamento de grupo que inibe dúvidas e opiniões pessoais e acaba levando a decisões irracionais. Badu foi rechaçada pelos mais conservadores e acabou sendo multada por má-conduta.
Não se sabe quando sai a terceira parte de sua trilogia. Por enquanto só se sabe que terá colaboração do talentosíssimo Flying Lotus. Espero que saia logo.
Para o último post musical deste ano, nada menos um monstro sagrado do rock. David Byrne já cravou seu nome na história da música como compositor e vocalista do essencial Talking Heads. Tem uma carreira extensa e brilhante que é referência para Deus e o mundo. Também é grande amante de música brasileira, vive antenado com as nossas novidades e foi um dos grandes responsáveis pelo retorno de Tom Zé. Byrne sempre busca novas parcerias como forma de manter o frescor criativo e, este ano, juntou forças com uma das mais talentosas e aventureiras artistas da atualidade: Annie Clark (St. Vincent). O fruto deste encontro, ‘Love this giant’, passa longe de ser uma parceria oportunista como tantas outras por aí. Byrne e Annie soam como companheiros de longa data com visões de mundo semelhantes e souberam forjar um disco excêntrico e orgânico no qual extraíram o melhor de cada um.
Fui convidado pelo UOL para fazer parte de uma Retrospectiva de 2012 por meio de charges, caricaturas, ilustrações e histórias em quadrinhos. Fiz estas duas charges abaixo.
A primeira é bem-humorada e trata da legalização do casamento gay na Bahia em outubro. É o primeiro estado brasileiro a fazer este belo avanço a leis mais justas e igualitárias a todos os cidadãos deste País. Muito axé aos baianos!
A segunda tem um tom crítico para os declarações infelizes do governador do Estado de São Paulo sobre esta onda de violência absurda que estamos presenciando todos os dias nos jornais e nas ruas. Se a culpa de tantas mortes são as proporções da cidade e do estado, por que não há números de guerra como os nossos em Nova Iorque, Tóquio, Londres ou Hong Kong por exemplo?
Conheci o Beto no colegial. Mudei de escola da quinta para a sexta série. Sai de um colégio católico não muito grande e fui para um dos maiores colégios de Brasília, o Sigma. Me sentia bem deslocado por lá. Estava acostumado com pessoas de famílias mais humildes como a minha e, de repente, estava em meio a um monte de ‘patricinhas e mauricinhos metidos a besta’ de classes mais favorecidas da sociedade. No meio daquele monte de ‘mauricinho metido a besta’ tinha uma pessoa sempre com o astral lá em cima, passando uma energia boa para todos ao seu redor, dessas pessoas que deixam qualquer ambiente mais acolhedor. Era o Beto, quase sempre um sorriso no rosto. E, volta e meia, ele aparecia com sua flauta, hipnotizando e afogando qualquer vestígio de baixo astral que houvesse por perto.
O tempo passou, e sempre fiquei na torcida para que o Beto se tornasse um grande músico. Não deu outra. Hoje em dia ele é integrante, junto com outros amigos, do ótimo Móveis Coloniais de Acaju, orgulho do pop-rock atual da minha terrinha.
Agora o Beto se aventura em um projeto solo. Lindo de morrer desde o singelo título: Abraço. Trata-se de um EP com sete músicas com um tom mais intimista que o festeiro som do Móveis. São sete músicas que celebram aqueles momentos preciosos ao lado de quem se ama. Um ode às pequenas epifanias da vida. ‘Só alegria’, como diria o próprio.