A Luz del Fuego de Krika Ohana

Charge para o Jornalistas & Cia

Corria o ano de 1987. Tempo de efervescência política e econômica pós-fracasso do Plano Cruzado. Nas artes, os exilados que voltaram ao longo da década e muitos outros novatos tentavam cavar espaço na cena artística. A mulher da vez era Claudia Ohana, que acabara de posar nua para a Playboy dos EUA e daqui, em fotos que não saem da memória dos mais assanhadinhos com mais de 35 anos.

Foi então que sua irmã mais velha, Krika Ohana, resolveu se lançar  ao estrelato. A ideia da moça era fazer performances em homenagem à falecida vedete Luz del Fuego, imortalizada nas telas por Lucélia Santos, em um filme de 1982.

O espetáculo, em um teatro da Zona  Sul do Rio de Janeiro, era um misto de performance com show de variedades. Na época, o velho JB rivalizava com O Globo em todas as editorias. Ganhava em Política e Artes e Espetáculos. Apesar disso, nenhum artista gostava de passar em branco nas páginas de O Globo, já que representava uma espécie de passaporte para as telas da tevê. Esta sim, hegemônica, com quase 80% da audiência efetiva no Rio.

Pois bem. O show da moça foi um fracasso e Krika cismou em “culpar” o Globo.

Eis que, um dia, irrompe na redação uma senhora vestindo apenas penacho na cabeça e um salto agulha de 15 cm, ladeada por um baixinho, que depois vim saber era seu empresário, desfilando pelo imenso corredor em “L” que era a redação do jornal na rua Irineu Marinho. A cena deixou os marmanjos boquiabertos, fez a alegria dos office-boys e deixou as moças mais recatadas completamente rubras. Eu, que na época encarava meu segundo emprego (o primeiro foi como estagiário na “escola” Jornal  do Commercio) na profissão, dessa vez como rádio-escuta, sai do “aquário” para ver a moça passar. O chefe de Redação da Geral, o Laguinho, ficou atônito e esqueceu-se de que estava ao telefone com uma fonte e gritou: “Tem mulher nua na redação!”.

Krika conseguiu percorrer 90% do trajeto, tendo sido parada apenas diante da editoria de Economia por dois seguranças chamados às pressas na recepção. Além do empresário baixinho, que gritava a plenos pulmões algo do tipo: “Vocês não quiseram assistir ao show, então trouxemos o show até vocês!”. Ela era seguida de perto por um fotógrafo que fez cliques à vontade. Os filmes foram confiscados. Contudo, um deles, certamente com a cumplicidade de algum coleguinha, vazou e foi estampar as páginas do arquirrival JB.

Evandro de Andrade, que era conhecido pelo modo, digamos, assertivo com que tratava das crises, fez um editorial pra lá de irado em O Globo. Desde então, nenhuma visita conseguiu mais entrar na redação. As visitas eram recebidas no térreo ou, no máximo, na antesala da redação. Culpa da nudez de Krika Ohana.

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