Charge para o Jornalistas & Cia
A história dessa semana é de Francisco Moacir Assunção Filho.
Quando começou a trabalhar no Estadão, lá pelos idos de 1999, Francisco foi apresentado a Fausto Macedo.
A mesa do Canalha (apelido de Fausto) era a mais bagunçada de todo o jornal. Ali, se acumulavam processos inteiros da Polícia Federal, investigações do Ministério Público, ações de toda ordem e documentos importantes. Era tanta coisa que a redação brincava dizendo que ele poderia usar as pilhas de documentos como casamatas em caso de um absolutamente improvável ataque aéreo contra o jornal ou, até, se esconder atrás caso o chefe quisesse passar mais uma missão além das que já tinha. O mais curioso é que ele, mesmo assim, encontrava tudo o que precisava, deixando todo mundo pasmo com a sua capacidade de (des)organização. Era tanta coisa que, certa vez, um diretor da Polícia Federal fez uma visita à sede do jornal e disse, brincando, que ia mandar apreender os documentos porque lá, com certeza, estavam as últimas operações da PF e eram papéis sigilosos.
Francisco resolveu então, brincar com o Canalha. Junto com um colega, desceu até o andar térreo do prédio do Estadão, onde funcionava o setor dos bombeiros civis e da manutenção, e pediu que lhe arrumassem um pouco daquela fita amarela e preta usada para, por exemplo, isolar áreas em obras. A desculpa é que precisava do material para fazer uma reforma no muro de casa e mantê-lo isolado dos vizinhos. Gentilmente, o rapaz me deu um pacote inteiro da fita.
Voltou à redação e passou a fita em volta da mesa e da cadeira do Fausto que, naturalmente, estava na rua atrás de mais uma matéria que certamente iria para a capa do jornal. Além disso, fez um cartaz, impresso no computador, no qual aparecia a frase “interditado pela Defesa Civil”. Colocou lá uma lei que, claro, não existia, mas era a número tal, fundos, como se fosse o endereço de uma casa, e deixou a fita lá, isolando toda a área onde ficava o Fausto, inclusive com os documentos oficiais. Colado na frente, o papel dizia que as pilhas eram uma ameaça à segurança e à saúde pública. Havia até risco de desabamento, como brincava o colega Daniel Bramatti: “Basta ver o que houve no Morro do Bumba”, dizia, em referência ao morro cujo desabamento causou uma tragédia em Niterói, no Rio de Janeiro. Bramatti sempre alegava que ele seria a primeira vítima do deslizamento da Encosta do Macedo, como batizou as pilhas de papéis do Fausto, já que se sentava em frente à mesa do colega repórter.
Pois bem, isolado e cercado o local, ficou observando, junto com outros colegas de redação, a reação das pessoas, enquanto esperava a “vítima”. Fez até várias fotos para mostrar o momento em que conseguimos, enfim, interditar a mesa do Canalha. Os colegas paravam, olhavam aquela cena e riam. Todos achavam engraçada a tal da interdição, até porque tinha gente que dizia que devia ter até ratos e baratas embaixo das pilhas de papel do Fausto, então devia ser tirado de circulação mesmo.
Teve gente que parou, fez algum comentário como “já não era sem tempo”, pensando que era de verdade, outros somente riam e passavam direto sem falar nada e até o então editor-chefe Marcelo Beraba (hoje na sucursal do Rio) foi, curioso, até a mesa do Canalha e sorriu muito ao ler o tal “decreto de interdição” da mesa dele. Estava impossível sentar-se lá, porque a cadeira também ficava na área de interdição a bem da saúde pública. Só faltava o próprio. Já eram umas 19h e nada do Fausto aparecer, para que pudessem ver a cara dele com a interdição.
Ligou para ele, dizendo que precisava que voltasse porque a chefia tinha passado uma matéria para os dois e tinham que combinar como fazer, depois inventou que havia uma pessoa o esperando na redação e nada. Outro colega telefonou para ele e disse que precisava contar algo pessoalmente e não adiantou. Passava das 21h, o jornal já fechado, e ele não aparecia. Os autores da arte, tiveram que ir embora porque já eram mais de 22h e chegamos à conclusão de que o Canalha não voltaria naquele dia e teríamos que adiar para o seguinte a rara oportunidade de ver a cara dele quando soubesse da interdição. Francisco tinha até um discurso pronto, no qual alegaria que não tive como impedir que a mesa fosse interditada, já que havia uma ordem expressa da Defesa Civil que não podia ser desobedecida.
Ao chegar de manhã, no dia seguinte, Francisco teve uma surpresa: a mesa do Fausto estava plenamente desinterditada, sem marca alguma do ocorrido no dia anterior, e a minha fechada e interditada, com a mesma fita amarela e preta. No cartaz preso na frente do computador que eu usava, uma frase escrita nos moldes da que deixamos no computador dele: “interditado por ordem da Secretaria de Saúde. Cachorro louco na área”, alertava, informando para os passantes terem muito cuidado com o tal bicho feroz (havia um desenho lhe representando).
Logo em seguida, o dito cidadão chegou, sorridente como sempre. Francisco perguntou se ele havia madrugado no jornal, já que eram pouco mais das 9 da manhã e haviam ficado até tarde o esperando para dar boas risadas. Ele contou, então, que sentira, pelo excesso de ligações, que havia um golpe em andamento e que o envolvia.
“Quando todo mundo começou a ligar, pedindo para eu voltar, percebi que era uma ‘cama de cabôco’ que estava armada para cima de mim”, explicou. Resolveu, por causa disso, adiar o regresso ao jornal, onde aportou por volta da meia-noite, quando não havia quase mais ninguém lá. Ao chegar, viu o cartaz e resolveu devolver a brincadeira, no que foi feliz. Francisco tentou tirar a fita, mas lhe convenceram a deixá-la lá até a hora do almoço, pelo menos.
Caro Mário, tudo bem? sou o autor da história da interdição do Fausto Macedo, publicado no Jornalista e cia, e quero aproveitar para te parabenizar pela belíssima e muito engraçada charge. Acho que você captou bem o espírito da história, como já fez em outra história que mandei para lá, na qual um motorista maluco quase levou um fotógrafo para o Rio, quando ele queria ir para Guarulhos. Grande abraço e parabéns,
Moacir Assunção
jornalista, professor universitário e escritor
Olá Moacir! Que bom que gostou das charges. Valeu! As histórias são ótimas também. Abraços
Ola Mario, sou prima-sobrinha do Fausto e pedi para ele me contar a historia na interdicao ele contou igualzinho a charge kkkkk
ele da muita risada com essa historia!
Abracos!!
Olá Villela,
Também ri bastante quando me enviaram a história para eu fazer a charge.
Abraços