Charge para o Jornalistas & Cia
O dono de um jornal de uma cidade do interior paulista ficou mais triste que político sem mandato depois de constatar uma queda brutal na circulação. O jornal ia de mal a mal mesmo, pior que o Ibope do Obama. Como naquela época ainda não havia o Sebrae, ele decidiu pedir conselhos a um jornalista tarimbado para tentar tirar o jornal do buraco. Escreveu uma carta a Vicente Leporace, apresentador do antológico programa O Trabuco na Rádio Bandeirantes, onde trabalhou nas décadas de 1960 e 70. Leporace, que também foi ator e atuou em dois filmes do Mazzaroppi – Sai da frente e Nadando em dinheiro –, era ouvidíssimo, principalmente em São Paulo.
Durante uma hora, Leporace, com sua voz tonitruante, comentava as notícias dos jornais ou, como dizia a vinheta do programa, “dava um tiro nos assuntos nacionais”, ora com grossa, ora com fina ironia. Um de seus alvos prediletos era o então ministro do Planeja Aumento, quer dizer, Planejamento, Roberto Campos, que os jornalistas não amestrados chamavam de Bob Fields. Eles protagonizaram um arranca-rabo no ar e, salvo engano, Leporace teve dificuldades ao tentar encostar o ministro na parede.
Mas do que é que eu falava mesmo? Devo confessar que na estreia, aqui, estou mais perdido do que a oposição no Brasil ou, se me permitem outro exemplo comparativo, estou mais perdido do que o time do Santos no jogo contra o Barcelona. Ah, sim, já me lembrei: o degas (essa é nova) aqui falava do dono do jornal que escreveu uma carta a Leporace narrando seu drama financeiro tintim por tintim ou tantã por tantã, como disse um locutor de FM. Como foi dito, ele resolveu se aconselhar com o apresentador de O Trabuco, que leu a carta no ar. “O que devo fazer para aumentar a circulação, seu Leporace?”, perguntou. Ao que Leporace, após dar uma pigarreada, aconselhou: “Faça um jornal redondo”.
E mais não disse nem lhe foi perguntado.