Charge para o Jornalistas & Cia
A história dessa semana é mais uma contribuição de Sandro Villar.
Na cidade de Adamantina (SP), terra natal de Cláudio Amaral, Gabriel Manzano Filho e Carlos Tramontina, os moradores aguardavam ansiosamente o momento do encontro dos ponteiros do relógio, marcando 12 horas. É que ao meio-dia em ponto e vírgula, naqueles criativos anos 1960, começava na Rádio Brasil o programa do locutor que só falava bêbado. Por uma questão de respeito, visto que o personagem já foi embora deste mundo de ilusões, seu nome será preservado. Teria sofrido uma desilusão amorosa, motivo que o levou a beber mais do que o personagem do cantor Vicente Celestino no filme ‘O Ébrio’. Um locutor de porre no rádio só pode mesmo chamar a atenção. O programa dava audiência em Adamantina. Os ouvintes se divertiam com o apresentador, ora agressivo, ora patético, que, ao contrário dos garotos da época, não amava os Beatles nem os Rolling Stones.
Sem ser nem uma coisa nem outra – agressivo e patético –, um locutor da Rádio Record, cismou que o relógio marcava mais de 24 horas. Um belo dia, tomou umas doses a mais de cachaça e entrou no estúdio para anunciar a hora certa. E meteu bronca. Assim que o operador abriu o microfone, o locutor, com voz pastosa, mandou ver: “Em São Paulo, são 29 horas”.
E um locutor de Presidente Prudente, que virou nome de rua, também se complicou na hora de dar a hora certa por estar de pileque. Nos anos 1980, ele trabalhava na Rádio Difusora, que também virou igreja eletrônica, e apresentava o programa noturno Música Sem Compromisso. Uma noite, no momento de anunciar a hora certa, assim falou ao respeitável público ouvinte: “Você ouve Difusora e Música Sem Compromisso. Em Prudente são 11 horas e 77 minutos”. Isso é que é hora certa sem compromisso com a exatidão.
Um outro caso famoso é o de um locutor-noticiarista de São Paulo, também amante da loirinha e da branquinha. Este locutor protagonizou outro episódio que, segundo as línguas ferinas, quase acabou com o seu casamento. Tarde ensolarada de sábado, nada para fazer em casa, ele resolveu beber num bar. A mulher dele tinha um cachorrinho poodle que era o seu xodó. E pediu ao marido para levar o cão junto, argumentando que o animal já estava ficando neurótico de tanto ficar dentro do apartamento. Meio a contragosto – ou inteiro a contragosto –, ele resolveu atender a esposa. Botou o cachorro debaixo do braço, ligou o carro e saiu em disparada, pois estava doido para molhar a goela. Ao chegar ao bar deixou o cãozinho dentro do carro e foi beber com os amigos. Logo depois o cachorro começou a latir, e os latidos passaram a incomodar. Ele não teve dúvidas: retirou o bicho do automóvel, afrouxou a coleira e o amarrou no parachoque traseiro. O cão se aquietou e ele voltou ao bar.
Lá pelas tantas, depois de tomar aquela e muitas que mataram o guarda e toda a corporação, o que explica a falta de policiamento na cidade, voltou para casa. Entrou no carro e foi embora correndo. Estacionou, pegou o elevador e entrou no apartamento. “Cadê o cachorro?”, perguntou a “dona da pensão”. Ele respondeu com um “Ah!”. Desceu ao estacionamento e, atrás do carro, só encontrou a coleira. Para tentar limpar um pouco a barra, que estava mais suja do que cueca de mendigo, ele teria inventado uma história: à esposa, explicou que havia deixado o cachorro em uma clínica veterinária e que o pegaria na segunda-feira. Para a mulher não desconfiar de nada, seu plano era comprar outro da mesma raça, um verdadeiro clone do pobre coitado que morreu arrastado e esfolado no asfalto.