Charge para o Jornalistas & Cia
A história dessa semana é narrada por Antonio Epifânio Moura Reis que relembra a visita oficial da Rainha Elizabeth II ao Brasil na época da ditadura, em 1968.
A CBF organizou especialmente para esta visita um jogo no Maracanã entre as seleções do Rio de Janeiro e de São Paulo. O “Jogo da Rainha” que contaria com o Rei Pelé em campo. O estádio lotou e ovacionou Vossa Majestade que, ao terminar a partida, entregaria na Tribuna de Honra uma medalha ao time perdedor e uma taça ao time vencedor. Começou então o tradicional empurra-empurra entre fotógrafos, seguidos de gritos após a chegada dos jogadores, do então presidente da CBF João Havelange carregando a imensa taça e de vários políticos, entre os quais o chanceler Magalhães Pinto.
– Rainha, dona rainha! Por favor, olha pra cá! – gritava uma das alas de fotógrafos, em meio aos cliques característicos.
– Pelé, Pelé! Fica do lado da rainha! – gritava outro grupo, nervoso.
– Sai da frente, ô de gravata! Sai da frente, “seu” Pinto! – berrava a ala que herdou o pior ângulo.
Nas arquibancadas, a multidão acompanhava a gritaria dos fotógrafos em relativo silêncio. Diplomatas e Jacinto pediam calma, inutilmente, sob olhares raivosos dos engravatados. A rainha passou a conversar com Pelé. Os fotógrafos, então, se uniram num só coro:
– Havelange, entrega a taça pra rainha, entrega a taça pra rainha!
O alto e atlético presidente da então CBD estendeu a bonita taça prateada para Sua Majestade, que demonstrou o peso da peça, pois
deu um passo para trás, quase cambaleando.
– Rainha, dona rainha! Entrega a taça pra Pelé! – ecoou o grito dos fotógrafos, sempre em meio aos cliques característicos.
E quando Pelé estendeu as mãos para receber o troféu, o fez sob novo e mais forte coro dos fotógrafos:
– Havelange, Havelange! Tira “seu” Pinto da frente!
“Seu” Pinto não apareceu nas fotos de primeira página dos vespertinos do dia seguinte e dos matutinos da terça-feira. Todas
exibiram, de diferentes ângulos, a rainha, Pelé e a taça prateada, confeccionada em Lisboa, segundo Havelange, especialmente para
a ocasião.